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Como se escreve um bom livro? Patrícia Reis
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O meu fascínio pelas boas histórias é lendário,
E a minha curiosa de sobre a maneira como os escritores trabalham é sempre grande.
Por isso vamos lá mergulhar de cabeça na arte de criar estórias, escritas no papel.
Nessa fabulosa invenção chamada livro.
Sempre quis saber como escrevem os autores os seus livros.
De onde nascem as ideias, como se criam personagens e se escorem as histórias.
Por isso convidei Patrícia Reis, jornalista e escritora, para nos levar numa viagem ao coração do seu universo criativo.
Ela partilha como constrói as suas histórias, como lê os livros que a inspiram e aborda temas que vão além da literatura, tocando questões sociais e culturais atuais.
Para Patrícia Reis, a escrita começa sempre com as personagens. Elas não surgem apenas como ideias abstratas, mas como figuras completas — com histórias, personalidades e uma necessidade urgente de serem contadas. É a partir delas que os seus livros ganham forma. Num processo quase intuitivo, ela rejeita esquemas rígidos de narrativa, preferindo deixar as histórias fluírem naturalmente, numa descoberta constante. Por vezes, as personagens assumem tal autonomia que alteram completamente o rumo que ela inicialmente imaginava.
A leitura, por outro lado, é descrita como um refúgio, uma fonte de inspiração e, acima de tudo, uma experiência transformadora. Patrícia acredita que cada livro tem um momento certo na vida do leitor que a sua interpretação muda com a idade e a experiência. Alguns livros resgatam-nos em tempos difíceis, outros desafiam-nos a ver o mundo de uma nova perspetiva. E há ainda os que nos deixam órfãos ao terminarem, tamanha é a sua profundidade e impacto.
Para além da escrita e da leitura, falámos de temas sociais e culturais que atravessam os dias de hoje.
Patrícia Reis é uma voz ativa na defesa do papel da mulher no mundo.
O feminismo, por exemplo, surge como uma luta por igualdade e justiça, longe de qualquer polarização. Ela reflete sobre como as mulheres em posições de poder enfrentam ataques específicos, como as críticas diretas e maldosas ao corpo das mulheres na espera pública, e sobre a persistência de desigualdades salariais e sociais.
As redes sociais também entram na conversa como um espelho das dinâmicas sociais atuais. Patrícia questiona o impacto que a polarização e o discurso de ódio têm sobre o diálogo e a construção de pontes entre pessoas com opiniões diferentes. Para ela, a falta de espaço para conversas abertas e para a troca de ideias é um dos maiores desafios da era digital.
Claro que falamos também de jornalismo,
Sobre a importância do jornalismo. Patrícia Reis defende que uma democracia saudável depende de um jornalismo que aprofunde contextos, promova pensamento crítico e mantenha a sociedade informada. Aponta, no entanto, os desafios do setor, como a precariedade das redações e a superficialidade de muitos conteúdos na atualidade.
Este episódio é uma oportunidade para explorar o poder transformador das palavras — escritas e lidas.
A biografia dos escritores está sempre expressa nos livros que escrevem. Ao escolher os temas, ao imaginar uma história os autores escolhem as armas com que nos vão ora encantar, ora desassossegar.
Na página do Pergunta Simples está lá a informação dos livros que Patrícia Reis escreveu até agora. Vale sempre a pena ler.
- A Desobediente (2024)
- Da Meia Noite às Seis (2021)
- As Crianças Invisíveis (2019)
- A Construção do Vazio (2017)
- Contracorpo (2013)
- Mistério no Benfica – O Roubo da Taça dos Campeões Europeus (2012)
- Assalto à Casa Fernando Pessoa (2012)
- Por Este Mundo Acima (2011)
- Mistério no Oceanário (2011)
- Mistério na Primeira República (2010)
- Um Mistério em Serralves (2010)
- Mistério no Museu da Presidência (2009)
- Antes de Ser Feliz (2009)
- O Que nos Separa dos Outros por Causa de um Copo de Whisky (2014)
- No Silêncio de Deus (2008)
- A fada Dorinda e a Bruxa do Mar (2008)
- Mistério no Museu de Arte Antiga (2008)
- Xavier, o livro esquecido e o dragão enfeitiçado (2007)
- Morder-te o coração (2007)
- Amor em Segunda Mão (2006)
- Beija-me (2006)
- Cruz das Almas (2004)
- Vasco Santana: o bem amado (1999)
- Paris 1889 (1994)
- Conhecer a Arte – Andy Warhol
- Conhecer a Arte – Mona Lisa
- O Mistério da Máscara Chinesa
- A Nossa Separação
- Carolina gogirls
- O Diário de Micas
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Estás confortável com o jornalista escritor? O perfeito escritor é absolutamente igual e igual. Absolutamente. Olha, tu está desligado. Está tranquilo assim. Provavelmente porque é só porque os momentos chatos dos telefones têm. Tem essa coisa tremenda de zurrar, quando não, quando não devem fazer aquela palminha para vos irritar, aquietar a malta, para irritar a malta, para evitar a malta do do som, que é o que acontece habitualmente aqui é que é que a malta viva.
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Patrícia Reis, Jornalista, escritora. Hoje chega aí uma carga de trabalho. Antes de mais nada, isto é uma escritora. Boa pergunta. Não sei se tem dias, tem dias. Eu sinto me sempre uma aprendiz de feiticeiro. Na verdade, para ser sincera, é como eu gosto de muitas coisas. Eu gosto de fazer muitas coisas e gosto de coisas muito diferentes. Portanto, na verdade, eu não sou só jornalista escritora, porque eu faço edição, porque eu faço produção de exposições, que eu faço curadoria, porque eu faço, eu faço coisas, eu gosto, fazer coisas.
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Pronto, vamos pôr assim. E não é uma coisa que seja predominante. Não estás no tribunal e dizes. Patrícia Reis declara se desde já como é que no tribunal pergunta nos Não é? Quem é que é? Qual é sua profissão? Eu tenho muita dificuldade em responder a isso, mas claro que sim. Eu digo sempre que sou jornalista. Tenho carteira profissional de jornalista, sou jornalista, uma maneira de olhar para o mundo.
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E claro que também sou escritora e outra maneira de olhar para o mundo. Vamos falar do olhar para o mundo. Vamos falar também das tuas escritas, daquilo que tu, daquilo que tu escreves. Como é que se escreve um livro quando? Isso não é charme de escritor, Não é que está tão difícil expressar o seu charme. Isto é muito doloroso.
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Há livros mais dolorosos do que do que outros. Eu acabei de escrever um romance que diverti me imenso, divertiu. Pela primeira vez posso dizer aquela coisa de diverti me a Ufa! Como é que se chama? Não sei.
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Mas o título no fim e os títulos é sempre um drama para mim. Então mas porquê? Porque tens muitos. Porque é difícil, Porque é difícil encontrar um bandido. É muito difícil encontrar onde é o autor que tem que fazer o título. O editor pode dar a imagem, o editor pode dar uma ajuda, mas neste momento o livro está só comigo.
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Portanto é só meu. Neste momento, conta me como é que é a mecânica. Tu tens as ideias sem das árvores ou das ideias nascendo. José Eduardo Agualusa diz que sonhou os livros, que é uma coisa que eu acho muito bonita. Sortudo? Sortudo mesmo. Sonha. Acorda de manhã. Onde é que estava o papel? Onde é que está a minha caneta?
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Vamos lá. Imagino que não seja bem assim, mas acho bonito. Lá está o charme. Foi um livro bom, É um homem charmoso, é um facto, mas eu percebo que também assume uma dimensão quase transcendental na forma como os livros chegam. E é lendo os livros dele, eu até tendo a acreditar que ele de facto, de alguma maneira sonhou os livros.
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Mas lá está, eu não sonho. Geralmente é uma personagem que me surge. Ele surge com corpo e roupa e tudo. Se for esta personagem, esta personagem tem uma história para contar e geralmente nunca saiu. O fim daquilo que estou a escrever é dificílimo para mim fazer aquelas estruturas à americana. Vamos fazer uma narrativa, estruturas, narrativa, introduções e agora o herói é o anti-herói.
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E agora o conflito é agora. Essas coisas para mim são todas uma grande treta. Funcionaram, mas não dá jeito ter de ter mais cuidado. Mas a mim não me dá jeito nenhum buscar essas pessoas que certamente senão as pessoas não fariam. E tu tem um personagem e aparece ali uma pessoa e depois faço o que faço, depois sento me, escrevo, ponto, ponto, interrogação.
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O personagem geralmente é porque tem uma história para contar. Os livros mandam muito em nós, mais do que nós mandamos nos livros e nas personagens. As personagens têm vida própria. Eu sei que isto pode parecer uma coisa um bocadinho estranha, mas é verdade que há ali um momento em que a personagem, a história, vai para onde quer, Não é para onde eu quero.
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Experimento quando eu dou um exemplo, eu escrevi um livro há uns anos, de que gosto particularmente chamado No Silêncio de Deus. E há uma personagem que é o Manuel Guerra, que é um velhote escritor que traz ganho, traga. Ganhava um prémio muito, muito grande, um Nobel da vida e que tem um cancro e vai morrer. Mais tarde. Instala se no bairro das prostitutas e eu ia matá lo.
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Eu tinha. Sabia exatamente o que queria, contar isso e ia matar aula. Ele ia morrer. Mas depois apaixonei me por ele. Acho que ainda hoje estou um bocadinho apaixonada por ele. E ele conseguiu matar. Subverteu de alguma forma e exigiu de mim outra coisa. E tu? Quando foi tão difícil matar um personagem? Então não é isso que os escritores fazem habitualmente?
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Quer dizer, matar personagens que se alguns até aquilo que eu tenho a certeza de que cada vez que aparece nunca pintou um personagem, porque eu gosto mesmo, mesmo, mesmo muito, é para morrer de escritor. A escrita está a fazer isso deliberadamente. Não sair não quer dizer não matar muitos personagens ao longo da minha, da minha escrita e dos meus livros, confesso.
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E como é que se ouvem os personagens? Porque se interessam? Como é que se ouvem? Como é que se ouve então tu ouvires as crianças que estão a pedir para ir comprar gelados ou rebuçados ou bombons puxando pela manga na tua cabeça? Para mim é um processo muito mental de coleção de ideias e só depois é que me sento a escrever.
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E sem correr o risco de repetir, não acreditando, eu em estruturas, acredito muito que a forma como eu vou organizando as coisas na minha cabeça depois terá uma estrutura por si. Mas lá está, mas tu beneficia de um treino. Primeiro, o primeiro romance que tu escreveste obedeceu também a essa mesma métrica. Tu teres uma ideia, uma epifania e depois começar a escrever o primeiro livro que eu escrevi chama se Cruz das Almas e eu vai 12 anos para publicar e escrevi numa máquina de escrever no Brasil, quando havia um surto de cólera e não se podia sair do hotel.
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E depois perdi as páginas, depois recuperei as páginas, depois passei para dentro de uma disquete. Havia disquetes, na altura em resina e depois a disquete. É todo um processo e toda, toda uma história. E o que me apareceu foi uma personagem. E tu pensas sempre a mesma coisa, é sempre aquela e é sempre esse o mote. É aparecer aquela, aquela pessoa, homem ou mulher pouco importa.
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Geralmente é muito curioso, mas geralmente os meus personagens são homens. Não sei o que é que se diz de mim enquanto feminista, mas são. Não é que não tenha mulheres nos meus livros, mas personagens, enfim. Pois é isso É mais fácil escrever pensando como um homem do que uma mulher nesse dia. E essa é grande. Essa é a grande maravilha de um mundo escritor.
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É que podes pensar como tu quiseres. Podes pensar como um homem velho que está de cancro, podes pensar como uma mulher. Que se põe em causa a sua sexualidade e pensa em fazer um processo de transição. Género podes pensar como uma criança que está em vias de ser adoptada e não quer ser adoptada. Podes pensar como tu quiseres.
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Essa é a grande coisa da ficção. A imaginação é a possibilidade de tu seres muitos não e não seres apenas tu, Mas seja muito e vem tudo da imaginação. Ou tu vais buscar coisas que eu acho que nós somos todos uns larápios da realidade. Atenção, andamos sempre a roubar ali o pedacinho da cena de outro lado, sempre a roubar um bocadinho daqui, um bocadinho dali.
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Os meus filhos às vezes dizem e pronto. E abri o livro da minha mãe. Lá estava o não sei o quê que eu reconheci imediatamente. E tudo é uma salada russa entre a imaginação, aquilo que vamos observando, as histórias que nos vão, que nos vão, não é um decalque da realidade. Isso nunca funcionará. Na minha opinião, a grande literatura não é um total de sete Na biografia isso é diferente.
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Não é literatura, é um género ainda. Eu até diria que é um género jornalístico, mais do que literatura, mais do que tradutora. Mas tu fazes assim uma mistura de várias coisas e tu e tu contas uma história que, por exemplo, eu tenho uma personagem que há sempre uma personagem nos meus livros, tem um sorriso torto. Ela pergunta porquê?
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Sei lá tu quando eu escrevo e o que é que a pessoa tem um sorriso torto e depois tu interroga te porque é que eu não me interrogo nada? Eu pergunto. Só estou a dizer que se for ler, sei lá, o Arturo Perez Reverte, por exemplo, encontrarás sempre o xadrez e encontrarás sempre humanos, porque há pequenas coisas que são nossas que estão ali.
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O Vergílio Ferreira tem uma frase que eu gosto particularmente, que é um romance. É um biombo atrás do qual a gente se despe. E isto, essa de uma coisa, essa maravilhosa, é o Vergílio Ferreira. O que está aqui não é esse seu ponto. Quer dizer, porque estávamos juntos antes de começamos a gravar, falar da psicanálise, de ir para o divã de alguma maneira, é uma forma de expiação dos nossos pecados e desejos mais inconfessáveis.
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Eu acho que são, enfim, essa luz que é este monstro da literatura. E digo no presente porque continua a ser um grande monstro da literatura. Dizia que que se escrevia, que se deveria escrever para incomodar e eu concordo com ela. Eu acho que nós devemos escrever para incomodar, para nos incomodarmos a nós próprios enquanto surdos e para incomodar o outro.
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Não é só pela história e não só pela história, porque o tópico é para aquilo que tu proporcionas e promove este pensamento sobre qualquer assunto. A E isso é uma coisa na qual eu acredito, então não faz muito bem o que tu queres dizer. Eu vou escrever um livro. Há pessoas que acham que é assim eu vou escrever um livro.
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Hoje em dia esse gato cão, o rato piriquito, escreve livros e eu vou é dar estatuto. As pessoas ainda acham que é verdade, estatuto que é uma tanga, que ninguém vive dos livros, que os livros não dão dinheiro, não ganha dinheiro, mas dá estatuto. Depende. É uma coisa de intelectual que é um Não sei se é um intelectual.
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Sei que hoje em dia não, não saiu. Acho que para mim, escrever é uma necessidade. Ponto. Desde pequenina, em vez rebentas. Se não escrever, não entendo e não entendo. O mundo é muito mais básico do que isso. Não rebenta coisa nenhuma. Continuo a viver como as outras pessoas são. Os óculos são uma lente para uma lente? São. São uma forma de observar o mundo.
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Claro, isso é uma forma de me incomodar e de incomodar os outros com as questões. Quando tu sentes e dizes vou escrever um livro, não é assim. O que eu tenho para dizer começa por aí. Claro que eu tenho que dizer o que é que me perturba. É isso o que é que. Qual é a reflexão que eu quero fazer neste momento?
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Essa é uma relação com a verdade. Lá está o que me incomoda. Se eu vou falar sobre a verdade, tenho que me implicar, Tenho que dizer ali eu não gosto daquilo. Ou gosto tudo ou não, ou não. Uma neutralidade não depende dos assuntos. Tu és uma ativista social? Claro que sim. É uma feminista. Fazes fazer barulho, faz muito barulho.
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Não faço muito barulho, sou bastante contida e pior que eu, pior. E isso é bom para a causa. Já agora, o que é ser humano? Ser o que? Uma ativista barulhenta, barulhenta? Eu acho que tu não tens outro remédio ou afasta militantes, ou afasta ou afasta os neutros. Não sei se eu faço. Eu acho que as pessoas. Há muita gente que acha que as feministas são umas chatas porque.
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Mas depois tu tens uma conversa razoável. Vamos explorar isso porque por que será que há essa perceção? Porque a maioria das pessoas tem uma conceção errada sobre aquilo que é o feminismo. E o feminismo não é uma coisa para diminuir os homens, não é uma coisa para que nós, cães, é apenas e exclusivamente isto é uma causa que advoga a igualdade e a paridade entre os sexos e ponto.
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E onde nada é só isto é onde é que está o incêndio da polaridade nesta conversa. Mas isto é por que este tema é o tema. Não em si. É uma questão de poder. Os homens não querem largar o seu poder e os seus privilégios. As mulheres hoje em dia em continuam sem poder confiar nos homens. É simples porque os homens continuam a matar as mulheres, porque os homens continuam a rebaixar as mulheres?
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Porque a candidata do Partido Socialista à Câmara de Lisboa aparece e a primeira coisa que fazem é body shaming. A Alexandra Leitão não faria um homem. Ninguém discute a ideia, ninguém discute quem é, quem discute o percurso, ninguém discute, não. O que interessa mesmo é a facilidade da agressão e a facilidade da agressão às mulheres. É mais fácil.
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Sempre foi mais fácil, embora nós estamos a falar da política e eu conheço alguns casos. Não vou citar nenhum em particular de políticos homens que são também gozados pela pelo seu aspeto físico, mas é mais raro pelo seu tamanho, mas é mais raro, mas sim certa dizer que o Carlos Moedas é baixinho porque é disso que tu estás a falar, ou que tem uma voz, ou que tem uma voz colocada e não é uma voz colocada.
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Ricardo Araújo Pereira passa a vida a gozar com o cu com o Hélio dos Balões. Portanto, é vá lá que o Carlos Moedas tem estrutura para aguentar isso com sentido de humor, não é? Mas não deixa de ser o mesmo, o mesmo sintoma. Não é? Quer dizer, é um ataque direto, certo? Mas acontece muito menos do que acontece aos miúdos.
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Estatisticamente, se quiseres, acontece muito menos do que acontece. Aliás, como estatisticamente está mais que provado que nós vamos precisar de 136 anos para chegar à paridade salarial a fazer as mesmas funções Estatística é chato, incomoda, mas é um facto. E para. A grande figura de 2024 para mim é a Giselle.
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A mulher que foi, a mulher que foi violentada, violada, enganada, manipulada durante tanto tempo por tantos homens. O que é que aconteceu para as pessoas que porventura distraídas e não o que aconteceu foi ter um marido, Foi ter um A senhora tinha um marido de longa data que a drogava e depois convidava outros homens para virem violar a mulher.
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Isto basicamente foi o que aconteceu a Tu não ouves uma história destas com um homem? E mais te digo que esta senhora tem todo o meu orgulho e compaixão pela forma como lidou com isto, porque ela não, não se enfiou na vergonha, não se enfiou na culpa, não duvidou dela própria e assumiu se uma mulher completamente destruída por esta situação.
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Mas dizendo A vergonha tem que mudar de sítio. Não sou eu que tenho que ficar envergonhada. E deu a cara e deu a cara. Porventura se uma situação destas acontecesse com uma mãe, não só não daria a cara como não faria as páginas de jornais que fez. Neste caso, porque os homens iriam esconder que é uma questão de poder.
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Há coisas que os homens não acontecem e acontecem. Claro que acontecem. É evidente que tu tens estudos que te provam que as agressões sexuais aos meninos e aos rapazes e aos homens existem. Elas existem estatisticamente. No número menos, enfim, menos, menos número menor. Mas elas existem, estão lá, mas lá está. Mas isso tem a ver com poder, tem a ver com tabu, tem a ver com tudo.
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Tem não querer discutir. Tu não falas sobre as agressões sexuais aos rapazes e aos homens com tanta facilidade como falas das mulheres, Porque? Porque há muito preconceito ainda e há muita vergonha e há muito silencio à volta das coisas. O que acontece com o movimento feminista é precisamente encontrar um lugar em que se possa dizer as coisas como elas são, porque nem estamos a falar da questão dos salários.
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Que é que é curioso? Porque quando? Quando nós lemos, aí quando nomeadamente do Estado, supostamente somos todos iguais, trabalho igual, salário igual, pois também. Não, não acontece, não acontece. E nós sabemos que não acontece, não acontece. As minhas portuguesas são das minhas que mais trabalham na Europa. Sabias disto porque são aquelas que têm, na sua maioria, as minhas portuguesas.
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Têm a seu cargo os filhos, os mais velhos, a casa, além do trabalho, estão a pagar a factura de serem as cuidadoras, a pagar a factura, de serem as cuidadoras e estão a pagar a fatura, de não existir um registo de paridade e a razão pela qual o feminismo faz sentido enquanto causa quer dizer atenção, o ser feminista não é uma coisa das mulheres.
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Eu conheço muitos homens feministas e ainda bem. Ainda bem que eles existem, porque esta luta e esse caminho não se faz sem os homens. Ninguém quer excluir os homens desta equação e, portanto, voltamos a tal polarização. A polarização pode estar, enfim, a não ser tão favorável à causa. Ou devo perguntar de outra maneira a polarização é boa ou má para a causa?
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É necessária ou está? Se não percebo esta tua pergunta, o que é que tu entendes por polarização? Isto é quase uma discussão Benfica-Sporting, não é? Quer dizer, tu estás a colocar a coisa numa ótica que é a ótica dos direitos humanos e da mais elementar justiça, que faz todo o sentido, que é o que é o feminismo. Todavia, a discussão pública nem sempre tem esse padrão.
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Quer dizer, quando o tema aparece é tu estavas a dizer Bom, isso é uma questão de poder. Quem? Quem tem o poder, eu diria. Mas no entendimento de ser homem ou mulher, quem tenha o poder não quer, não quer perder o todo, não é. Portanto é isso é que se chama poder. Há mulheres de poder, certo? Há poucas, mas há.
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E ainda bem. E como é que se comportam essas mulheres? Essas mulheres comportam se o melhor possível, como é óbvio. E depois, quando estão no poder e querem fazer o seu caminho, são sujeitas a shaming. Tal e qual como eu referi há pouco em relação à Sandra Leitão, do Partido Socialista, e a sua candidatura à eventual candidatura à Câmara Municipal de Lisboa.
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Ou o vestido da Assunção Cristas que levantou tanta polémica porque tinha que vir e por acaso até era de uma estilista do Porto que eu gosto bastante de chamar e portanto também era uma maneira de louvar o design português cá para fora. Mas sobre isso ninguém, ninguém quis saber ou interesse. Isabel Moreira, também do Partido Socialista, Assunção Cristas, do CDS, porque apareceu em biquíni ou caramba, nós vimos os mamilos do Marcelo Rebelo de Sousa todas as semanas, quase na praia.
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Claro, Ou onde? Onde ele quiser. Mas vimos então e agora vimos uma mulher em biquíni. É um problema apresentar um duplo padrão. Pelo menos se tivéssemos uma mulher presidenciável, tínhamos essa grande alegria. Não tínhamos que gramar com olha para o que tinha esta menina. Numa outra conversa anterior com um amigo, estávamos a falar da. Agora nós devemos ser o país do mundo com mais canais de notícias do planeta.
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Mas há uma coisa boa que está a acontecer, que é o número de votos. Infelizmente cresce na área da política. Provavelmente o desejo de não aparecer. Já nos esquecemos da pandemia de aparecerem muitas mulheres comentadoras, felizmente jovens e do e do É do que está a acontecer nas redes sociais, nos facebooks desta vida, das pessoas ficarem a comentar não as ideias, o que estão a defender, o que estão a reflectir em termos políticas.
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Mas não está a falar sobre o sobre o corpo, sobre o Instagram delas, sobre a maneira como elas vivem na sua vida real. E não, não, não no universo da política. Lá está, mais uma vez o duplo padrão. Não sei se é um duplo padrão. Eu acho que hoje as pessoas utilizam as redes sociais para dar a ideia de que a vida delas é assim, assado, cozido, frito, ao refogado.
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É um markting, é uma selfie, é uma propaganda, É só fumar quem não tem mal nenhum. Há pessoas que usam só as redes sociais para promover o seu trabalho e também está lá. E há pessoas que usam as redes sociais para mostrar as praias onde andam. E também está bem. Está tudo bem, eu precisa, está tudo bem. O problema das redes sociais é que vieram permitir comentários atrozes de uma violência extrema.
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E isto não tem consequências. Há uma impunidade e hoje fala se muito liberdade de expressão. Mas eu acho que a liberdade de expressão tem que ter o mínimo da dignidade. Tem que pelo menos obedecer à dignidade. Essa linha, essa linha, tu pode não gostar da pessoa porque ela ideologicamente, por exemplo, é contrária às tuas ideias, mas não quer dizer que não consigas conversar com ela.
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O problema é que hoje estamos num mundo que é assim ou estás comigo ou estás contra mim, tal e qual. E eu não estou disposta a debater contigo. Ora, com tu não debates, não há promoção de pensamento, não há promoção de pensamento. As ideias não evoluem. Eu posso discordar de tu podes ser do Benfica por hipótese. Não sei se no topo do mundo, Por Cristo, tu és do Porto, sou do universo.
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Não temos conversa. O Belenenses também é uma casa. É uma escolha muito segura, claro. É uma escolha de quem não gosta de futebol, porque assim não tem conversas com ninguém. É uma estratégia minha, Eu gosto pelo menos pronto. E eu gosto muito da cidade do Porto, mas não gosto de futebol. Portanto, já temos aqui uma equipa pronta. A verdade não quer dizer que não possamos conversar e hoje as pessoas não estão dispostas a conversar, estão dispostas a atacar pontos dispostas a crítica.
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É tudo muito fácil e muito português e isto porventura será muito da condição humana. E acabou. E não há nada a fazer que nós alcançamos ou criticamos e julgamos com uma facilidade medonha. Nós não sabemos da missa a metade e já estamos a julgar qualquer pessoa e a pandemia veio agudizar este este sentimento de ah, olha, vou te dizer, eu acho que para mim é uma coisa muito terrível, que é o outro, o outro com possibilidade de agente de morte.
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Eu não vou buscar aquela pessoa porque ela pode trazer um vírus. Tu és uma ameaça para mim, No fundo, uma ameaça com asma, hipocondria. Sei como é essa hipocondria social manteve se ao longo destes anos pós pós pandemia, salvo seja, porque eu acho que a pandemia veio para ficar de alguma forma, que as pessoas estão mais individualista, estão mais egoístas.
00:22:40:05 – 00:23:04:24
Lembras te no início, quando fazíamos isto? Agora vamos todos ficar. Nós vamos todos valorizar o humanismo, Vamos todos estar sem solidariedade e compaixão pelo outro. Está em guerra. Nós somos uma tanga. Não foi assim que aconteceu. Não é assim que acontece. As redes sociais são um espelho disso mesmo. Portanto, tu estás comigo, estás contra mim. É simples. É esta é a realidade.
00:23:05:01 – 00:23:32:11
É muito limitativa e ao mesmo tempo é muito. É muito simpática, digamos assim. Para certos movimentos que te querem na carneirada. Claro que quanto menos tu pensares, melhor. Eu notei que dois ou três lamiré trabalha aqui para os pontos excelentes dos jornais, das televisões e das rádios. Diga aqui com uma frase e tal e que eu fique. Está bom e vou ao encontro dos receios das pessoas.
00:23:32:13 – 00:24:00:11
Crise económica implica receio. As pessoas têm receio, sustêm o medo. O medo limita se. O medo não é criativo. Se tu tiveres medo, não és uma pessoa criativa. Há uma espécie de uma espécie de cultura narrativa do medo, claro. Fala do medo de fala subrepticiamente. O medo não fala, evidentemente, do medo, mas fala Quando nós atacamos os imigrantes e o e o .
00:24:00:13 – 00:24:18:01
Mas depois dou te um exemplo prático Ai, eu não gostava nada do meu vizinho porque é indiano, mas tive um incêndio cá em casa. Eu fui a primeira pessoa que me veio ajudar e agora somos grandes amigos, mas deixou de ser o . Mas e aquilo? Eventualmente mas deixou de ser o para ser aquela pessoa que foi ajudar?
00:24:18:03 – 00:24:45:01
Isso é uma perspetiva francamente utilitária? Com certeza. Com certeza esse é o problema também não é só que os imigrantes neste país estão cá e ainda bem que estão. E venham mais, se for caso disso. Estão cá para ter uma vida melhor. Estão cá e pagam impostos, estão cá e contribuem para a sociedade e fazem trabalhos que a maioria da malta que se diz portuguesa, seja lá isso o que for, não faz, não quer fazer, não faz e não quer fazer.
00:24:45:03 – 00:25:14:24
Portanto, esta discussão de o outro como agente possível de Dufour de violência de Dufour, não é. É pelo medo e pelo desconhecimento. É o medo e o desconhecimento. Alimentam se porque tu não vês nas televisões e não vês nas rádios. Estamos a falar de imigração. Tu não vês nas televisões e nas rádios ou raramente vês. Vamos lá incorporar então as nossas comunidades de imigrantes e trazer esta malta para a conversa.
00:25:15:01 – 00:25:41:03
Tu fazes discursos sobre racismo na televisão com cinco brancos, Percebes o que eu quero dizer e ninguém pensou nisto. De repente estou no ar. São cinco, são todos caucasianos e tal. Foi o racismo e o racismo. Epa, francamente, Tenham lá paciência. Ninguém quer que haja diálogo, ninguém quer construir pontes, quer tudo. Estar no seu condomínio fechado, viver com arame farpado.
00:25:41:05 – 00:26:01:17
E isto é o pior que pode acontecer ao mundo. Olha, mas em princípio nós somos uma civilização gregária. Nós vivemos uns com os outros, Nós precisamos de estar uns com os outros. Nós queremos estar quando quer dizer que somos uns animais sociais? Em princípio, sim, não é em princípio. Por isso é que vamos, pois neste momento, o que tu tens são são os guetos vizinhos, não é a tua.
00:26:01:17 – 00:26:13:21
Agora eu pertenço a esta bolha. Tu pertença aquela bolha. Tu és daquela tribo ou outra da outra tribo. É isto que eu te estou a dizer. Tu estás num condomínio fechado, não estejas no condomínio fechado.
00:26:13:23 – 00:26:35:03
Não te traz nada de bom fecharmos aqui. Como é que a gente parte esse, esse muro, esse arame farpado? Eu só posso dizer te aquilo que eu faço, que eu faço é falar sobre isto. As pessoas querem falar sobre coisas que não tem importância nenhuma e eu quero falar sobre isto. Quero falar sobre como é que nós estamos a viver a nossa democracia.
00:26:35:03 – 00:26:57:06
Quero falar sobre o futuro dos nossos políticos, como é que nós encaramos, porque é que nós encaramos os nossos políticos sempre com sentido de mediocridade e com uma de descrédito que sim, eles são todos eles juntos, eles, aquela entidade anónima, Eles ou eles somos nós e o eles somos nós, porque o Estado somos nós. Portanto, o que eu faço na minha bolha é tentar abrir a bolha o mais possível.
00:26:57:06 – 00:27:21:13
É falar com o maior número de pessoas, tentar não ter preconceito, tentar estar disponível para o diálogo. Se tens que estar disponível. Se não estivesse disponível. Olha, é impressão minha ou cada vez é mais difícil e menos bem visto? A arte de fazer perguntas, claro, porque é perigosíssimo também. Cada vez é mais difícil fazer jornalismo digno desse nome.
00:27:21:15 – 00:27:57:17
Porque é difícil. Ninguém quer, ninguém quer. As redacções estão como são básicas as redacções que têm pessoas com nível salarial, uma precariedade inacreditável, porque os têm e passam recibo e amanhã não têm. Não tem contrato, não tem perspetiva de futuro. Interessante. São 3500 criaturas de cursos de comunicação social e de jornalismo por ano das faculdades que, coitadas, precisam fazer estágio de aprender, de ter a sua tarimba, chamemos lhe assim, e que são tratadas como carne para canhão e pronto.
00:27:57:21 – 00:28:20:09
E nós não estamos a falar sobre isto, sucinto. E não estamos. E o jornalismo, como política, é essencial para a democracia, é essencial. Tu não tens uma democracia sem jornalismo, não é? Não tens porque é preciso escrutinar. É preciso perguntar o que é, porque é preciso sempre perguntar, porque é preciso sempre ir atrás. Porque é preciso sempre ver o outro lado, ter o contraditório.
00:28:20:09 – 00:28:44:10
O jornalismo é isto. Eu vou vos contar esta história que se passou com a senhora A. Mas com a senhora B. Passou se outra coisa. Percebe se e se irrita. Ela está irritada. Isso não é conveniente para quem não quer que tu pensas. Que chatice! Está aqui esta pessoa aqui a fazer estas perguntas. Quem és tu quando? Quando eu consigo pensar, consigo decidir e consigo pensar.
00:28:44:10 – 00:29:10:17
As pessoas precisam de pensar e para pensarem, precisam de bom jornalismo. E vou dizer uma coisa que é um crime lesa majestade é esquisito. Enfim, crucificam, mas paciência. Precisam de jornalismo escrito, porque as pessoas precisam de contexto. Não é uma notícia de um minuto. As pessoas precisam de jornalismo escrito. As pessoas precisam de voltar a ler, porque ler também promove os neurónios e as células cinzentas do cérebro.
00:29:10:17 – 00:29:35:14
Nós deixamos de ler e nós deixamos de ler os jornais. E isso é muito perigoso. Deixar de ler os jornais é muito perigoso não acompanhar a actualidade. Tu não te podes enfiar a tua boca, dizer eu não quer saber, eu nem vou votar. Então eu vejo aqui, Eu fui lá saber. Eu vejo aqui no meu, no meu, no meu digital, aqui no meu instagram e no meu facebook as gordas que tenho uma vaga ideia.
00:29:35:16 – 00:29:57:22
Apesar de tudo, é curioso que não gostemos se temos filhos relativamente jovens ou mais crescidos, que apesar toda a atualidade, chega lhes de outra maneira, isto é, chega lhes de uma forma diferente e volta e meia eles comentam coisas meus. Os meus filhos não são exemplo para os meus filhos, são são umas criaturas que foram treinadas para estar atentas ao mundo.
00:29:57:24 – 00:30:23:00
São umas criaturas, foram treinadas para ser bons leitores, mas tu fizeste isso. Eu sou uma boa leitora e eu discuto a realidade todos os dias. E as nossas conversas à mesa de jantar eram conversas. Nunca tive a televisão ligada. Nunca. E conversava sobre tudo. E discordávamos e concordávamos que discordávamos e continuamos a concordar que discordamos nisto ou naquilo e que concordamos no outro e olhamos para as coisas e falamos sobre tudo.
00:30:23:00 – 00:30:40:03
Sempre foi assim. Olha, não era tópico desta entrevista, mas tu falaste sobre isso, que é como é que é ser mãe de uma mãe do meu filho? A pergunta é como é que é ser filho de uma mãe como esta? É capaz de ser um bocadinho mais interessante que entretanto eu já cá andava? Então deixa me lá, deixa me lá fazer a pergunta concreta que, como é que é?
00:30:40:05 – 00:31:00:07
Como é que é a tua relação com uma personalidade política? É pública, chamada Sebastião Bugalho. Eu sou a mãe dele. Sou só a mãe dele. Percebe o que eu quero dizer? Eu sou somente eu não sou militante, não sou groupie, não sou chefe de redação, não sou médica, não sou juiz dele, não sou mãe dele, que é a coisa mais importante do mundo.
00:31:00:07 – 00:31:24:05
E, portanto, quando pega no telefone e não, não, não, não. Então não, não, não pego no telefone. Acho que era coisa de puxar a orelha. Não, eu não faço, não faço isso, não faço isso. Tenho demasiado respeito já porque o meu filho não é o meu filho mais velho, assim como o meu filho mais novo. São dois homens, não são duas crianças.
00:31:24:07 – 00:31:47:20
É porque eu tenho respeito pela forma como eles entendem a vida deles e fizeram as suas opções, mesmo que as suas opções não não sejam as mesmas que eu farei. E não tem problema nenhum. E sim, é democrático. Pensam que eu respeito o caminho que cada um deles segue? Acabou, mais nada. Eu não puxo orelhas e não puxo análises a um homem com 29 anos, nenhum com 25.
00:31:47:20 – 00:32:09:14
Estamos malucos. Ok, então que é isto? Então eu fiz o meu trabalho, daí. O pacote com as ferramentas, a caixinha das ferramentas, Dei tudo o que podia, fiz o melhor que consegui. Mas uma mãe a ser mãe não é uma mãe, é sempre uma mãe, mas uma mãe é colo. Eu estou cá, Popó. Portanto, quando alguma coisa não correr bem, eu cá só ao mimo.
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Não, não perdi. Não estou cá para puxar orelhas. Olha, voltamos às leituras. O que andas a ler? O que eu ando a ler? Olha, isso é uma boa pergunta. Eu quero um livro incríveis, uma leitura anárquica e tens pilhas de coisas para ler que vais saltando de nenúfar. Eu não farol tanto de nenúfar no farol. Eu pego num livro, leio do princípio ao fim quando estou a ler uma coisa que se chama Our Evening, do Alan de Rolling Yours, que é um escritor inacreditável.
00:32:39:21 – 00:33:06:04
Tem alguns livros publicados em Portugal A Linha da Beleza é um livro que eu recomendo A Linha da Beleza. Gostava muito voltar àquele momento inaugural em que fiz aquela primeira leitura e ele é incrível. E eu pego e leio até ao fim o que eu vou saltitando não farei, não farei. Na poesia. A poesia alimenta muito, muito. Quando é que voltas à poesia?
00:33:06:06 – 00:33:42:19
Na angústia, Quando está mesmo assim, mais de neura. Não é poesia. Depois recupera muito e vai e volta. É tipo de medicamento. Você volta sempre aos poemas de sempre. Não, não, não, não vou lendo várias coisas. Há coisas às quais volto sempre. Mas eu acho, eu acho. A poesia e a literatura muito salvadoras. Recuperam nos. Olha o livro quando é mesmo muito, muito bom que a gente está ali naquelas últimas 30 páginas a pensar e agora vai acabar E eu vou ficar aqui.
00:33:42:21 – 00:34:09:19
Entre o órfão e o ressacado. Não haverá mais nenhum livro tão bonito como este. Como é que é? Como é que fazes? Como eu chego ao fim, Fecho o livro, abro o livro outra vez e volta a ler de novo. Isso já não tem surpresa. É outra maneira de encarar a leitura. Para lá do deslumbramento um E tem o contrário, que é tu dizendo olha, está aqui este escritor é que é este que é o último bolacha do pacote, mas não é o último botão pensar o rabo.
00:34:09:19 – 00:34:35:09
E Marías, por exemplo, no não há e mais não existe. Mas existem tantas bolachas no pacote, são todas tão boas nesse sentido e já estás a ferver e a pensar Já não aguento este texto, Não aguento. Hoje em dia já não tenho nenhum problema em abandonar, mas hoje abandono, pois ao lado ponho, põe, põe de lado. Posso te dizer, aliás, que aos 18 anos pus os 100 anos de solidão ao lado e disse Caramba, não tenho cabeça, não tenho cabeça para isto.
00:34:35:11 – 00:34:55:03
É um livro brilhante que eu li depois já li duas vezes ou três, mas naquela altura não dava. Aquilo era demais para mim. Os livros têm um tempo para ler, para serem livros. São lidos de forma diferente consoante a tua idade e a tua experiência. E se eu tenho a certeza absoluta, não é a mesma coisa ler Os Maias aos 15 anos e ler Os Maias aos 52.
00:34:55:03 – 00:35:15:05
Se ainda por cima tentamos usar a palavra várias pessoas zangadas comigo e impingir Os Maias, Mas eu acho ótimo, sinto eu ajudar e eu não tenho nada contra isso e aquilo. Não parece uma leitura, parece uma autópsia. Eu não tenho nada contra isso. Tudo depende do professor que tu apanhas. Tu apanhares um professor inacreditável que consiga dosear o seu programa.
00:35:15:09 – 00:35:39:04
Tem TV de uma pedra de uma calçada. Ora lá está, pronto é o entusiasmo do próprio professor. É aquilo que vai contagiar a turma. E tu podes ler Os Maias e podes ler o Rui Zink ou a Luísa Costa Gomes, a mesma turma e procurar. Quer dizer, repara como é que, como é que é possível dizerem que os adolescentes não aderem ao Camões.
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Escritos de Camões são sonetos de um homem apaixonado, um adolescente e, por inerência, uma pessoa apaixonada que todos os dias quero morrer e viver. E aqueles versos até dá um jeitaço. Portanto, não, não está a ser ensinado. Bem, não sei se não está a ser livros, não posso dizer isso. Eu acho que a profissão mais importante do mundo é ser professor.
00:36:01:23 – 00:36:28:20
É a pessoas que são professores porque não têm outro médico, são obrigados a isso e, portanto, há outras que são por vocação e é, suponhamos, um bom professor. É fundamental saber onde é que a literatura vem. É fundamental saber que existirão outros mundos, outras maneiras de olhar para os mesmos assuntos. Quer dizer, os livros são a melhor. O bilhete de viagem que tu podes ter.
00:36:28:24 – 00:36:51:05
Olha o que vale a pena ler. Eu tenho sempre uma dificuldade que é ora eu apanho as promoções das editoras que está a acontecer isto agora deste novo escritor. Há coisas que eu conheço e portanto é muito fácil de de lá entrar ou de ou de outro descobrir. Mas falta sempre uma curadoria, quer dizer, este aqui implícitas, preguiçoso.
00:36:51:07 – 00:37:13:08
Se calhar não achas que é isso. Eu vou à livraria, leio meia dúzia de páginas, mas há demasiadas coisas lá, certo? Certo, está bem, mas eu pego num. Como paguei a semana passada num livro de uma escritora espanhola cujo nome infelizmente não me vai ocorrer e disseste este é que é. E o livro chama se Maus Hábitos. É um livro maravilhoso, maravilhoso.
00:37:13:09 – 00:37:38:11
Eu li três páginas, li a contracapa e disse olha, eu vou experimentar. Ou seja, sem preconceito e também sem grande expetativa. Gosto? Acho que não acho. Não gosto muito. É mau. Não vem daí mal nenhum ao mundo, mas pelo menos estou disponível. Mas a quantidade de livros é tão gigantesca, a quantidade de autores é tão gigantesca. Que sorte, não é incrível?
00:37:38:13 – 00:37:59:07
É mesmo! Mas a probabilidade da gente ir falhando muitos, não é? É tanta que tinha tanta angústia. Isso não me angustia nada, porque eu acho que falhar faz parte do processo, Não é? Não vejo por que seja um problema. Não gosto deste livro. Ok, há outro que vão ao outro dia. Não existe distinção. Um livro só existe um dez.
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A Bíblia não é também? Belíssimo livro, incrível. Lenda por ter E o nome da escritora? Obrigada. Tivemos a ajuda do Google, tivemos a ajuda do povo. Obrigada! E o livro do livro é maravilhoso. Comprem! Chama se Maus Hábitos. É maravilhoso. Só pelo título ainda não li um parágrafo. Pronto, estás a ver? Às vezes o título faz diferença. Voltamos ao princípio se que lá está, como resolver a questão dos títulos?
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Quer dizer que um bom título pode, pode, Pode, obviamente, abrir e abrir. E que grandes grandes possibilidades podemos ler mais. Mais um livro na literatura portuguesa A literatura portuguesa. O estudo. Ponto. Tudo por princípio. Eu leio tudo, porque eu gosto muito dos escritores de nova geração. Eu também, porque eu leio todos e posso gostar mais de um. Posso gostar mais de um livro, posso?
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A esta coisa os escritores não são regulares. Percebo o que eu dizer. Tu pegas num tu pegas em todos os livros do Vergílio Ferreira, Vou dizer Virgílio, o da Agustina vai na Cristina. Não é possível. São todos bons, mas pegas nos nos livros de um autor. E se não são todos bons, não vão todos ser inacreditáveis para ti enquanto leitor.
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Mas podem ser para mim, aqueles que tu não gostas tanto. Se calhar para mim são incríveis. E é esta riqueza que maravilhosa, não é? Mas há alguns que te acertam. Não sei se no gosto geral ou no fado, caem no desassossego geral. O que tu pensar. Eu gosto muito, por exemplo, do João Tordo. Eu também gosto muito do João Tordo e li primeiro algumas coisas mais profundas e afins e um dia tropecei num policial dele que supostamente eu gosto mais das coisas mais profundas e afins.
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O João fez filosofia e portanto eu achei esse lado mais interessante. Eu disse o ao alto espera aqui uma porta e depois voltei aos outros a seguir. Quando eu penso no Gonçalo mesmo Tavares Jerusalém, eu digo assim aqui umas coisas que são estrelas. Mas tu estás me a dizer é preciso de cantar. Há aqui uns livros que vão funcionar mais para ti do que outros contos.
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O Normandos para ti. Agora há escritores incríveis a Luísa Costa Gomes, a Inês Pedrosa, a Teolinda Gersão, a Maria Teresa Horta, a Joana Berto, a Dulce Maria Cardoso. Somos muito a Tânia Ganho uma escritora incrível e uma tradutora igualmente incrível. Nada dela. Tânia Eu sou grande fã da Tânia. Confesso. Grande, grande fã da Tânia. Acho que a Apneia é um livro extraordinário.
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E é. Acho que ela fez um trabalho incrível. De facto, é um tema muito difícil, porque é um tema sobre o mito dentro da família, mas é um livro e não é quase sempre dentro da família. Sim, estatisticamente. Mas isso que é quase sempre dentro da família ou próximo da família. Quais são os teus hábitos de escrita? Não tem, não tens.
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E quando é quando calha, é em qualquer sítio. Escreves à mão, escreve no computador, escreve de qualquer maneira, como tu queres introduzir o que escrever aberto, passando por caneta de tinta permanente outra vez e escrevendo. E eu não tenho. Não trago um caderninho como a Inês Pedrosa ministra. Há sempre um livro dentro da mala, um caderninho dentro da mala e é o que ela dizem, porque pode surgir um romance e eu achei este lindo.
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Mas isto nunca diria a pessoa. Eu sou uma colecionadora mental e depois escrevo quando escrevo. Pronto. E as ideias não podem escapar se se tu não tomar de uma paciência. Isso é como aquela história do Bob Dylan que vai no carro e de repente tem uma ideia para uma música e abre a janela e diz lá para cima, supostamente para Deus.
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Agora, agora que eu não tenho papel e caneta, pronto, eu enfim, eu aceito que quando começo a escrever, o que está lá está lá e o que eu perdi, perdi e estou numa fase de profunda aceitação de algumas coisas. São olha como é que é o momento em que tu decides que o livro já está escrito e que tu tens definitivamente que lhe livrar dele e entregares para que ele possa ser impresso.
00:42:15:00 – 00:42:35:00
É o momento em que começa a escrever outro, começas antes de entregar aquilo. Sim, habitualmente sim. Isso não aconteceu. Quando terminei As Crianças Invisíveis e eu sinceramente achei que tinha secado, que não havia mais nada para contar e fica se com a sensação de vazio. Tanto é que eu andava, andava, andava e não aparecia nada e eu ia ficar órfã de personagens e ficar sozinha.
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É muito chato ficar sozinho naquela. Então percebi que não vi nada, não vi nada, não aparecia nada, não aparecia ninguém, não via nada. Então entreguei o livro. Depois no mim surgiu me uma radialista, a Susana, e eu escrevi o da meia noite às seis, assim de uma assentada, com uma velocidade como nunca aconteceu. Quanto tempo demora a escrever um livro despindo as crianças invisíveis?
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Eu demorei quatro anos, mas também à noite as saias levaram uns meses, três meses. E é escrever em confinamento e depois reescrever e reescrever e reescrever. E mais ou menos. E eu tenho uma coisa muito complicada na minha cabeça, que começa na terceira pessoa, passa para a primeira, depois volta para sair amanhã. Onde é que está o ponto de vista?
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Sim, o que significa que estou sempre a reescrever. E dá para mudar os pontos de vista ao longo dos capítulos? Às vezes sim e aquilo não fica incoerente se tu pensar que não saí transcorrer os livros. E para além disso, acho que é incoerente, porque quer dizer tudo. Eu estou a ver. E voltamos ao início da conversa. Estavas a falar do homem que vai para Amesterdão e por aí fora.
00:43:40:02 – 00:44:04:14
E eu digo que se tu és uma escritora intuitiva e vais fazendo essa e essa quase arqueologia mental, tu corre o risco de chegar ao fim do livro e teres um personagem que exige que escrevas o um e dois. Se tiver que reescrever, que pode um trabalho interno. Olha qual é a melhor coisa que o leitor pode dizer.
00:44:04:16 – 00:44:27:01
Gostei do seu livro porque qualquer coisa tem que haver um porque tem que haver um porquê. Sim, porque eu gosto de perceber onde é que as pessoas se encontraram dentro dos livros e onde é que encontraram uma identificação. O que é que lhes acrescentou? Gostei muito do seu livro. Qualquer pessoa pode dizer isso, Pode ser só simpático, pode ser só simpático e nem ter lido.
00:44:27:03 – 00:44:41:00
Aqui entre nós acontece muito. De certeza que acontece que muita coisa tem que acontecer muito e tal. É uma escritora muito será? Gostei muito seu livro e tu ficas a pensar assim. Bem, não lhe vou fazer duas perguntas porque obviamente.
00:44:41:02 – 00:44:59:05
Corro o risco da pessoa ficar entre o que escrevo, mas o que quero saber é que achas? E depois? De repente, quem? Ah, não, não, não, não, não, não foi outro livro que li há muito tempo. Já não me lembro do título. Era uma era, não era? Portanto, eu agradeço. Mas isso faz parte da mentira social também é uma forma de escrita.
00:44:59:07 – 00:45:15:17
Então nós somos uma hipocrisia constante, andante, com duas perninhas para o lado dos nossos pecados. É verdade. Patrícia Reis. Muito obrigado por teres vindo. Obrigado. Quando é que saiu o livro? Sei lá. Ainda não acabei de escrever.
00:45:15:19 – 00:45:36:09
Já agora, este era a última pergunta. Mas eu tem mais uma muito boa relação com os editores, porque imagino que os editores na sua cabeça tenham tenha uns prazos, tenham uma relação. Eu não tenho nenhum problema com prazos, mas na ficção, felizmente isso não existe e portanto, pode ser quando for, pode ser quando for Não, ficção não é assim, não é o caso da biografia da Maria Teresa Horta.
00:45:36:09 – 00:46:01:24
Havia um caso, mas é diferente porque fazer uma biografia é um trabalho menos romanesco. Lá está, tu vais à procura de fontes e de perspetivas e de ideias e juntas, aquilo tudo é um trabalho mais jornalístico, se quiser. Como é que se faz? Como é que faz? Com dificuldade, com muita dificuldade. E no caso específico da Maria Teresa, estando ela viva, felizmente com um sentido de responsabilidade tremendo, porque há uma linha que tu não podes cruzar e depois mandas lhe mandar te.
00:46:02:01 – 00:46:24:23
Eu disse lhe que ela podia ler, ela não quis ler e ela não quis ler porque a jornalista Isso é muito bonito. Foi a maior prova de confiança de todas as que Teresa, como eu, faz parte daquela daquele grupo de jornalistas que não dá entrevistas a ler. As pessoas que entrevistou, claro, E edita e publica. E a responsabilidade e a responsabilidade dos dois, obviamente, neste caso a história dela.
00:46:25:00 – 00:46:46:16
Mas. Mas és tu que é que conta? Mas ela iria sempre, se calhar ter a necessidade de mudar isto ou aquilo, isto ou aquilo e não quis sujeitar se que isso nela própria. Como é que se escreve sobre? Sobre os lados mais negros ou mais difíceis de admitir da vida de alguém com dificuldade? Outra vez tudo é com dificuldade.
00:46:46:16 – 00:47:10:02
Caramba, não é difícil, É difícil. É difícil perceber a fronteira entre aquilo que pode escrever e o que não pode escrever. E não deixei de dizer que a Teresa é uma pessoa que se alimenta do conflito, que é uma pessoa que violenta, não é uma pessoa consensual. Eu escrevia essas coisas todas. Agora há maneiras. Tu podes dizer tudo juntos, sim, mas depois há uma dimensão de intimidade.
00:47:10:05 – 00:47:37:00
Claro que estando ela vivo, tens que ter esse respeito e sendo eu amiga dela há tantos anos, o respeito ainda é maior. Portanto, aquilo foi uma missão perigosa, muito perigosa, mas. Mas foi incrível de fazer e eu estou muito contente E sobretudo, estou muito contente com a reação das pessoas. Se eu conseguir que as pessoas leiam a história da Maria Teresa Horta e voltem a obra dela, para mim está feito.
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Patrícia obrigado, Obrigada.
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O meu fascínio pelas boas histórias é lendário,
E a minha curiosa de sobre a maneira como os escritores trabalham é sempre grande.
Por isso vamos lá mergulhar de cabeça na arte de criar estórias, escritas no papel.
Nessa fabulosa invenção chamada livro.
Sempre quis saber como escrevem os autores os seus livros.
De onde nascem as ideias, como se criam personagens e se escorem as histórias.
Por isso convidei Patrícia Reis, jornalista e escritora, para nos levar numa viagem ao coração do seu universo criativo.
Ela partilha como constrói as suas histórias, como lê os livros que a inspiram e aborda temas que vão além da literatura, tocando questões sociais e culturais atuais.
Para Patrícia Reis, a escrita começa sempre com as personagens. Elas não surgem apenas como ideias abstratas, mas como figuras completas — com histórias, personalidades e uma necessidade urgente de serem contadas. É a partir delas que os seus livros ganham forma. Num processo quase intuitivo, ela rejeita esquemas rígidos de narrativa, preferindo deixar as histórias fluírem naturalmente, numa descoberta constante. Por vezes, as personagens assumem tal autonomia que alteram completamente o rumo que ela inicialmente imaginava.
A leitura, por outro lado, é descrita como um refúgio, uma fonte de inspiração e, acima de tudo, uma experiência transformadora. Patrícia acredita que cada livro tem um momento certo na vida do leitor que a sua interpretação muda com a idade e a experiência. Alguns livros resgatam-nos em tempos difíceis, outros desafiam-nos a ver o mundo de uma nova perspetiva. E há ainda os que nos deixam órfãos ao terminarem, tamanha é a sua profundidade e impacto.
Para além da escrita e da leitura, falámos de temas sociais e culturais que atravessam os dias de hoje.
Patrícia Reis é uma voz ativa na defesa do papel da mulher no mundo.
O feminismo, por exemplo, surge como uma luta por igualdade e justiça, longe de qualquer polarização. Ela reflete sobre como as mulheres em posições de poder enfrentam ataques específicos, como as críticas diretas e maldosas ao corpo das mulheres na espera pública, e sobre a persistência de desigualdades salariais e sociais.
As redes sociais também entram na conversa como um espelho das dinâmicas sociais atuais. Patrícia questiona o impacto que a polarização e o discurso de ódio têm sobre o diálogo e a construção de pontes entre pessoas com opiniões diferentes. Para ela, a falta de espaço para conversas abertas e para a troca de ideias é um dos maiores desafios da era digital.
Claro que falamos também de jornalismo,
Sobre a importância do jornalismo. Patrícia Reis defende que uma democracia saudável depende de um jornalismo que aprofunde contextos, promova pensamento crítico e mantenha a sociedade informada. Aponta, no entanto, os desafios do setor, como a precariedade das redações e a superficialidade de muitos conteúdos na atualidade.
Este episódio é uma oportunidade para explorar o poder transformador das palavras — escritas e lidas.
A biografia dos escritores está sempre expressa nos livros que escrevem. Ao escolher os temas, ao imaginar uma história os autores escolhem as armas com que nos vão ora encantar, ora desassossegar.
Na página do Pergunta Simples está lá a informação dos livros que Patrícia Reis escreveu até agora. Vale sempre a pena ler.
- A Desobediente (2024)
- Da Meia Noite às Seis (2021)
- As Crianças Invisíveis (2019)
- A Construção do Vazio (2017)
- Contracorpo (2013)
- Mistério no Benfica – O Roubo da Taça dos Campeões Europeus (2012)
- Assalto à Casa Fernando Pessoa (2012)
- Por Este Mundo Acima (2011)
- Mistério no Oceanário (2011)
- Mistério na Primeira República (2010)
- Um Mistério em Serralves (2010)
- Mistério no Museu da Presidência (2009)
- Antes de Ser Feliz (2009)
- O Que nos Separa dos Outros por Causa de um Copo de Whisky (2014)
- No Silêncio de Deus (2008)
- A fada Dorinda e a Bruxa do Mar (2008)
- Mistério no Museu de Arte Antiga (2008)
- Xavier, o livro esquecido e o dragão enfeitiçado (2007)
- Morder-te o coração (2007)
- Amor em Segunda Mão (2006)
- Beija-me (2006)
- Cruz das Almas (2004)
- Vasco Santana: o bem amado (1999)
- Paris 1889 (1994)
- Conhecer a Arte – Andy Warhol
- Conhecer a Arte – Mona Lisa
- O Mistério da Máscara Chinesa
- A Nossa Separação
- Carolina gogirls
- O Diário de Micas
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Estás confortável com o jornalista escritor? O perfeito escritor é absolutamente igual e igual. Absolutamente. Olha, tu está desligado. Está tranquilo assim. Provavelmente porque é só porque os momentos chatos dos telefones têm. Tem essa coisa tremenda de zurrar, quando não, quando não devem fazer aquela palminha para vos irritar, aquietar a malta, para irritar a malta, para evitar a malta do do som, que é o que acontece habitualmente aqui é que é que a malta viva.
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Patrícia Reis, Jornalista, escritora. Hoje chega aí uma carga de trabalho. Antes de mais nada, isto é uma escritora. Boa pergunta. Não sei se tem dias, tem dias. Eu sinto me sempre uma aprendiz de feiticeiro. Na verdade, para ser sincera, é como eu gosto de muitas coisas. Eu gosto de fazer muitas coisas e gosto de coisas muito diferentes. Portanto, na verdade, eu não sou só jornalista escritora, porque eu faço edição, porque eu faço produção de exposições, que eu faço curadoria, porque eu faço, eu faço coisas, eu gosto, fazer coisas.
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Pronto, vamos pôr assim. E não é uma coisa que seja predominante. Não estás no tribunal e dizes. Patrícia Reis declara se desde já como é que no tribunal pergunta nos Não é? Quem é que é? Qual é sua profissão? Eu tenho muita dificuldade em responder a isso, mas claro que sim. Eu digo sempre que sou jornalista. Tenho carteira profissional de jornalista, sou jornalista, uma maneira de olhar para o mundo.
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E claro que também sou escritora e outra maneira de olhar para o mundo. Vamos falar do olhar para o mundo. Vamos falar também das tuas escritas, daquilo que tu, daquilo que tu escreves. Como é que se escreve um livro quando? Isso não é charme de escritor, Não é que está tão difícil expressar o seu charme. Isto é muito doloroso.
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Há livros mais dolorosos do que do que outros. Eu acabei de escrever um romance que diverti me imenso, divertiu. Pela primeira vez posso dizer aquela coisa de diverti me a Ufa! Como é que se chama? Não sei.
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Mas o título no fim e os títulos é sempre um drama para mim. Então mas porquê? Porque tens muitos. Porque é difícil, Porque é difícil encontrar um bandido. É muito difícil encontrar onde é o autor que tem que fazer o título. O editor pode dar a imagem, o editor pode dar uma ajuda, mas neste momento o livro está só comigo.
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Portanto é só meu. Neste momento, conta me como é que é a mecânica. Tu tens as ideias sem das árvores ou das ideias nascendo. José Eduardo Agualusa diz que sonhou os livros, que é uma coisa que eu acho muito bonita. Sortudo? Sortudo mesmo. Sonha. Acorda de manhã. Onde é que estava o papel? Onde é que está a minha caneta?
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Vamos lá. Imagino que não seja bem assim, mas acho bonito. Lá está o charme. Foi um livro bom, É um homem charmoso, é um facto, mas eu percebo que também assume uma dimensão quase transcendental na forma como os livros chegam. E é lendo os livros dele, eu até tendo a acreditar que ele de facto, de alguma maneira sonhou os livros.
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Mas lá está, eu não sonho. Geralmente é uma personagem que me surge. Ele surge com corpo e roupa e tudo. Se for esta personagem, esta personagem tem uma história para contar e geralmente nunca saiu. O fim daquilo que estou a escrever é dificílimo para mim fazer aquelas estruturas à americana. Vamos fazer uma narrativa, estruturas, narrativa, introduções e agora o herói é o anti-herói.
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E agora o conflito é agora. Essas coisas para mim são todas uma grande treta. Funcionaram, mas não dá jeito ter de ter mais cuidado. Mas a mim não me dá jeito nenhum buscar essas pessoas que certamente senão as pessoas não fariam. E tu tem um personagem e aparece ali uma pessoa e depois faço o que faço, depois sento me, escrevo, ponto, ponto, interrogação.
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O personagem geralmente é porque tem uma história para contar. Os livros mandam muito em nós, mais do que nós mandamos nos livros e nas personagens. As personagens têm vida própria. Eu sei que isto pode parecer uma coisa um bocadinho estranha, mas é verdade que há ali um momento em que a personagem, a história, vai para onde quer, Não é para onde eu quero.
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Experimento quando eu dou um exemplo, eu escrevi um livro há uns anos, de que gosto particularmente chamado No Silêncio de Deus. E há uma personagem que é o Manuel Guerra, que é um velhote escritor que traz ganho, traga. Ganhava um prémio muito, muito grande, um Nobel da vida e que tem um cancro e vai morrer. Mais tarde. Instala se no bairro das prostitutas e eu ia matá lo.
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Eu tinha. Sabia exatamente o que queria, contar isso e ia matar aula. Ele ia morrer. Mas depois apaixonei me por ele. Acho que ainda hoje estou um bocadinho apaixonada por ele. E ele conseguiu matar. Subverteu de alguma forma e exigiu de mim outra coisa. E tu? Quando foi tão difícil matar um personagem? Então não é isso que os escritores fazem habitualmente?
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Quer dizer, matar personagens que se alguns até aquilo que eu tenho a certeza de que cada vez que aparece nunca pintou um personagem, porque eu gosto mesmo, mesmo, mesmo muito, é para morrer de escritor. A escrita está a fazer isso deliberadamente. Não sair não quer dizer não matar muitos personagens ao longo da minha, da minha escrita e dos meus livros, confesso.
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E como é que se ouvem os personagens? Porque se interessam? Como é que se ouvem? Como é que se ouve então tu ouvires as crianças que estão a pedir para ir comprar gelados ou rebuçados ou bombons puxando pela manga na tua cabeça? Para mim é um processo muito mental de coleção de ideias e só depois é que me sento a escrever.
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E sem correr o risco de repetir, não acreditando, eu em estruturas, acredito muito que a forma como eu vou organizando as coisas na minha cabeça depois terá uma estrutura por si. Mas lá está, mas tu beneficia de um treino. Primeiro, o primeiro romance que tu escreveste obedeceu também a essa mesma métrica. Tu teres uma ideia, uma epifania e depois começar a escrever o primeiro livro que eu escrevi chama se Cruz das Almas e eu vai 12 anos para publicar e escrevi numa máquina de escrever no Brasil, quando havia um surto de cólera e não se podia sair do hotel.
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E depois perdi as páginas, depois recuperei as páginas, depois passei para dentro de uma disquete. Havia disquetes, na altura em resina e depois a disquete. É todo um processo e toda, toda uma história. E o que me apareceu foi uma personagem. E tu pensas sempre a mesma coisa, é sempre aquela e é sempre esse o mote. É aparecer aquela, aquela pessoa, homem ou mulher pouco importa.
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Geralmente é muito curioso, mas geralmente os meus personagens são homens. Não sei o que é que se diz de mim enquanto feminista, mas são. Não é que não tenha mulheres nos meus livros, mas personagens, enfim. Pois é isso É mais fácil escrever pensando como um homem do que uma mulher nesse dia. E essa é grande. Essa é a grande maravilha de um mundo escritor.
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É que podes pensar como tu quiseres. Podes pensar como um homem velho que está de cancro, podes pensar como uma mulher. Que se põe em causa a sua sexualidade e pensa em fazer um processo de transição. Género podes pensar como uma criança que está em vias de ser adoptada e não quer ser adoptada. Podes pensar como tu quiseres.
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Essa é a grande coisa da ficção. A imaginação é a possibilidade de tu seres muitos não e não seres apenas tu, Mas seja muito e vem tudo da imaginação. Ou tu vais buscar coisas que eu acho que nós somos todos uns larápios da realidade. Atenção, andamos sempre a roubar ali o pedacinho da cena de outro lado, sempre a roubar um bocadinho daqui, um bocadinho dali.
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Os meus filhos às vezes dizem e pronto. E abri o livro da minha mãe. Lá estava o não sei o quê que eu reconheci imediatamente. E tudo é uma salada russa entre a imaginação, aquilo que vamos observando, as histórias que nos vão, que nos vão, não é um decalque da realidade. Isso nunca funcionará. Na minha opinião, a grande literatura não é um total de sete Na biografia isso é diferente.
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Não é literatura, é um género ainda. Eu até diria que é um género jornalístico, mais do que literatura, mais do que tradutora. Mas tu fazes assim uma mistura de várias coisas e tu e tu contas uma história que, por exemplo, eu tenho uma personagem que há sempre uma personagem nos meus livros, tem um sorriso torto. Ela pergunta porquê?
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Sei lá tu quando eu escrevo e o que é que a pessoa tem um sorriso torto e depois tu interroga te porque é que eu não me interrogo nada? Eu pergunto. Só estou a dizer que se for ler, sei lá, o Arturo Perez Reverte, por exemplo, encontrarás sempre o xadrez e encontrarás sempre humanos, porque há pequenas coisas que são nossas que estão ali.
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O Vergílio Ferreira tem uma frase que eu gosto particularmente, que é um romance. É um biombo atrás do qual a gente se despe. E isto, essa de uma coisa, essa maravilhosa, é o Vergílio Ferreira. O que está aqui não é esse seu ponto. Quer dizer, porque estávamos juntos antes de começamos a gravar, falar da psicanálise, de ir para o divã de alguma maneira, é uma forma de expiação dos nossos pecados e desejos mais inconfessáveis.
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Eu acho que são, enfim, essa luz que é este monstro da literatura. E digo no presente porque continua a ser um grande monstro da literatura. Dizia que que se escrevia, que se deveria escrever para incomodar e eu concordo com ela. Eu acho que nós devemos escrever para incomodar, para nos incomodarmos a nós próprios enquanto surdos e para incomodar o outro.
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Não é só pela história e não só pela história, porque o tópico é para aquilo que tu proporcionas e promove este pensamento sobre qualquer assunto. A E isso é uma coisa na qual eu acredito, então não faz muito bem o que tu queres dizer. Eu vou escrever um livro. Há pessoas que acham que é assim eu vou escrever um livro.
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Hoje em dia esse gato cão, o rato piriquito, escreve livros e eu vou é dar estatuto. As pessoas ainda acham que é verdade, estatuto que é uma tanga, que ninguém vive dos livros, que os livros não dão dinheiro, não ganha dinheiro, mas dá estatuto. Depende. É uma coisa de intelectual que é um Não sei se é um intelectual.
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Sei que hoje em dia não, não saiu. Acho que para mim, escrever é uma necessidade. Ponto. Desde pequenina, em vez rebentas. Se não escrever, não entendo e não entendo. O mundo é muito mais básico do que isso. Não rebenta coisa nenhuma. Continuo a viver como as outras pessoas são. Os óculos são uma lente para uma lente? São. São uma forma de observar o mundo.
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Claro, isso é uma forma de me incomodar e de incomodar os outros com as questões. Quando tu sentes e dizes vou escrever um livro, não é assim. O que eu tenho para dizer começa por aí. Claro que eu tenho que dizer o que é que me perturba. É isso o que é que. Qual é a reflexão que eu quero fazer neste momento?
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Essa é uma relação com a verdade. Lá está o que me incomoda. Se eu vou falar sobre a verdade, tenho que me implicar, Tenho que dizer ali eu não gosto daquilo. Ou gosto tudo ou não, ou não. Uma neutralidade não depende dos assuntos. Tu és uma ativista social? Claro que sim. É uma feminista. Fazes fazer barulho, faz muito barulho.
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Não faço muito barulho, sou bastante contida e pior que eu, pior. E isso é bom para a causa. Já agora, o que é ser humano? Ser o que? Uma ativista barulhenta, barulhenta? Eu acho que tu não tens outro remédio ou afasta militantes, ou afasta ou afasta os neutros. Não sei se eu faço. Eu acho que as pessoas. Há muita gente que acha que as feministas são umas chatas porque.
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Mas depois tu tens uma conversa razoável. Vamos explorar isso porque por que será que há essa perceção? Porque a maioria das pessoas tem uma conceção errada sobre aquilo que é o feminismo. E o feminismo não é uma coisa para diminuir os homens, não é uma coisa para que nós, cães, é apenas e exclusivamente isto é uma causa que advoga a igualdade e a paridade entre os sexos e ponto.
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E onde nada é só isto é onde é que está o incêndio da polaridade nesta conversa. Mas isto é por que este tema é o tema. Não em si. É uma questão de poder. Os homens não querem largar o seu poder e os seus privilégios. As mulheres hoje em dia em continuam sem poder confiar nos homens. É simples porque os homens continuam a matar as mulheres, porque os homens continuam a rebaixar as mulheres?
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Porque a candidata do Partido Socialista à Câmara de Lisboa aparece e a primeira coisa que fazem é body shaming. A Alexandra Leitão não faria um homem. Ninguém discute a ideia, ninguém discute quem é, quem discute o percurso, ninguém discute, não. O que interessa mesmo é a facilidade da agressão e a facilidade da agressão às mulheres. É mais fácil.
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Sempre foi mais fácil, embora nós estamos a falar da política e eu conheço alguns casos. Não vou citar nenhum em particular de políticos homens que são também gozados pela pelo seu aspeto físico, mas é mais raro pelo seu tamanho, mas é mais raro, mas sim certa dizer que o Carlos Moedas é baixinho porque é disso que tu estás a falar, ou que tem uma voz, ou que tem uma voz colocada e não é uma voz colocada.
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Ricardo Araújo Pereira passa a vida a gozar com o cu com o Hélio dos Balões. Portanto, é vá lá que o Carlos Moedas tem estrutura para aguentar isso com sentido de humor, não é? Mas não deixa de ser o mesmo, o mesmo sintoma. Não é? Quer dizer, é um ataque direto, certo? Mas acontece muito menos do que acontece aos miúdos.
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Estatisticamente, se quiseres, acontece muito menos do que acontece. Aliás, como estatisticamente está mais que provado que nós vamos precisar de 136 anos para chegar à paridade salarial a fazer as mesmas funções Estatística é chato, incomoda, mas é um facto. E para. A grande figura de 2024 para mim é a Giselle.
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A mulher que foi, a mulher que foi violentada, violada, enganada, manipulada durante tanto tempo por tantos homens. O que é que aconteceu para as pessoas que porventura distraídas e não o que aconteceu foi ter um marido, Foi ter um A senhora tinha um marido de longa data que a drogava e depois convidava outros homens para virem violar a mulher.
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Isto basicamente foi o que aconteceu a Tu não ouves uma história destas com um homem? E mais te digo que esta senhora tem todo o meu orgulho e compaixão pela forma como lidou com isto, porque ela não, não se enfiou na vergonha, não se enfiou na culpa, não duvidou dela própria e assumiu se uma mulher completamente destruída por esta situação.
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Mas dizendo A vergonha tem que mudar de sítio. Não sou eu que tenho que ficar envergonhada. E deu a cara e deu a cara. Porventura se uma situação destas acontecesse com uma mãe, não só não daria a cara como não faria as páginas de jornais que fez. Neste caso, porque os homens iriam esconder que é uma questão de poder.
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Há coisas que os homens não acontecem e acontecem. Claro que acontecem. É evidente que tu tens estudos que te provam que as agressões sexuais aos meninos e aos rapazes e aos homens existem. Elas existem estatisticamente. No número menos, enfim, menos, menos número menor. Mas elas existem, estão lá, mas lá está. Mas isso tem a ver com poder, tem a ver com tabu, tem a ver com tudo.
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Tem não querer discutir. Tu não falas sobre as agressões sexuais aos rapazes e aos homens com tanta facilidade como falas das mulheres, Porque? Porque há muito preconceito ainda e há muita vergonha e há muito silencio à volta das coisas. O que acontece com o movimento feminista é precisamente encontrar um lugar em que se possa dizer as coisas como elas são, porque nem estamos a falar da questão dos salários.
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Que é que é curioso? Porque quando? Quando nós lemos, aí quando nomeadamente do Estado, supostamente somos todos iguais, trabalho igual, salário igual, pois também. Não, não acontece, não acontece. E nós sabemos que não acontece, não acontece. As minhas portuguesas são das minhas que mais trabalham na Europa. Sabias disto porque são aquelas que têm, na sua maioria, as minhas portuguesas.
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Têm a seu cargo os filhos, os mais velhos, a casa, além do trabalho, estão a pagar a factura de serem as cuidadoras, a pagar a factura, de serem as cuidadoras e estão a pagar a fatura, de não existir um registo de paridade e a razão pela qual o feminismo faz sentido enquanto causa quer dizer atenção, o ser feminista não é uma coisa das mulheres.
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Eu conheço muitos homens feministas e ainda bem. Ainda bem que eles existem, porque esta luta e esse caminho não se faz sem os homens. Ninguém quer excluir os homens desta equação e, portanto, voltamos a tal polarização. A polarização pode estar, enfim, a não ser tão favorável à causa. Ou devo perguntar de outra maneira a polarização é boa ou má para a causa?
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É necessária ou está? Se não percebo esta tua pergunta, o que é que tu entendes por polarização? Isto é quase uma discussão Benfica-Sporting, não é? Quer dizer, tu estás a colocar a coisa numa ótica que é a ótica dos direitos humanos e da mais elementar justiça, que faz todo o sentido, que é o que é o feminismo. Todavia, a discussão pública nem sempre tem esse padrão.
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Quer dizer, quando o tema aparece é tu estavas a dizer Bom, isso é uma questão de poder. Quem? Quem tem o poder, eu diria. Mas no entendimento de ser homem ou mulher, quem tenha o poder não quer, não quer perder o todo, não é. Portanto é isso é que se chama poder. Há mulheres de poder, certo? Há poucas, mas há.
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E ainda bem. E como é que se comportam essas mulheres? Essas mulheres comportam se o melhor possível, como é óbvio. E depois, quando estão no poder e querem fazer o seu caminho, são sujeitas a shaming. Tal e qual como eu referi há pouco em relação à Sandra Leitão, do Partido Socialista, e a sua candidatura à eventual candidatura à Câmara Municipal de Lisboa.
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Ou o vestido da Assunção Cristas que levantou tanta polémica porque tinha que vir e por acaso até era de uma estilista do Porto que eu gosto bastante de chamar e portanto também era uma maneira de louvar o design português cá para fora. Mas sobre isso ninguém, ninguém quis saber ou interesse. Isabel Moreira, também do Partido Socialista, Assunção Cristas, do CDS, porque apareceu em biquíni ou caramba, nós vimos os mamilos do Marcelo Rebelo de Sousa todas as semanas, quase na praia.
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Claro, Ou onde? Onde ele quiser. Mas vimos então e agora vimos uma mulher em biquíni. É um problema apresentar um duplo padrão. Pelo menos se tivéssemos uma mulher presidenciável, tínhamos essa grande alegria. Não tínhamos que gramar com olha para o que tinha esta menina. Numa outra conversa anterior com um amigo, estávamos a falar da. Agora nós devemos ser o país do mundo com mais canais de notícias do planeta.
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Mas há uma coisa boa que está a acontecer, que é o número de votos. Infelizmente cresce na área da política. Provavelmente o desejo de não aparecer. Já nos esquecemos da pandemia de aparecerem muitas mulheres comentadoras, felizmente jovens e do e do É do que está a acontecer nas redes sociais, nos facebooks desta vida, das pessoas ficarem a comentar não as ideias, o que estão a defender, o que estão a reflectir em termos políticas.
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Mas não está a falar sobre o sobre o corpo, sobre o Instagram delas, sobre a maneira como elas vivem na sua vida real. E não, não, não no universo da política. Lá está, mais uma vez o duplo padrão. Não sei se é um duplo padrão. Eu acho que hoje as pessoas utilizam as redes sociais para dar a ideia de que a vida delas é assim, assado, cozido, frito, ao refogado.
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É um markting, é uma selfie, é uma propaganda, É só fumar quem não tem mal nenhum. Há pessoas que usam só as redes sociais para promover o seu trabalho e também está lá. E há pessoas que usam as redes sociais para mostrar as praias onde andam. E também está bem. Está tudo bem, eu precisa, está tudo bem. O problema das redes sociais é que vieram permitir comentários atrozes de uma violência extrema.
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E isto não tem consequências. Há uma impunidade e hoje fala se muito liberdade de expressão. Mas eu acho que a liberdade de expressão tem que ter o mínimo da dignidade. Tem que pelo menos obedecer à dignidade. Essa linha, essa linha, tu pode não gostar da pessoa porque ela ideologicamente, por exemplo, é contrária às tuas ideias, mas não quer dizer que não consigas conversar com ela.
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O problema é que hoje estamos num mundo que é assim ou estás comigo ou estás contra mim, tal e qual. E eu não estou disposta a debater contigo. Ora, com tu não debates, não há promoção de pensamento, não há promoção de pensamento. As ideias não evoluem. Eu posso discordar de tu podes ser do Benfica por hipótese. Não sei se no topo do mundo, Por Cristo, tu és do Porto, sou do universo.
00:21:20:13 – 00:21:46:10
Não temos conversa. O Belenenses também é uma casa. É uma escolha muito segura, claro. É uma escolha de quem não gosta de futebol, porque assim não tem conversas com ninguém. É uma estratégia minha, Eu gosto pelo menos pronto. E eu gosto muito da cidade do Porto, mas não gosto de futebol. Portanto, já temos aqui uma equipa pronta. A verdade não quer dizer que não possamos conversar e hoje as pessoas não estão dispostas a conversar, estão dispostas a atacar pontos dispostas a crítica.
00:21:46:10 – 00:22:18:04
É tudo muito fácil e muito português e isto porventura será muito da condição humana. E acabou. E não há nada a fazer que nós alcançamos ou criticamos e julgamos com uma facilidade medonha. Nós não sabemos da missa a metade e já estamos a julgar qualquer pessoa e a pandemia veio agudizar este este sentimento de ah, olha, vou te dizer, eu acho que para mim é uma coisa muito terrível, que é o outro, o outro com possibilidade de agente de morte.
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Eu não vou buscar aquela pessoa porque ela pode trazer um vírus. Tu és uma ameaça para mim, No fundo, uma ameaça com asma, hipocondria. Sei como é essa hipocondria social manteve se ao longo destes anos pós pós pandemia, salvo seja, porque eu acho que a pandemia veio para ficar de alguma forma, que as pessoas estão mais individualista, estão mais egoístas.
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Lembras te no início, quando fazíamos isto? Agora vamos todos ficar. Nós vamos todos valorizar o humanismo, Vamos todos estar sem solidariedade e compaixão pelo outro. Está em guerra. Nós somos uma tanga. Não foi assim que aconteceu. Não é assim que acontece. As redes sociais são um espelho disso mesmo. Portanto, tu estás comigo, estás contra mim. É simples. É esta é a realidade.
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É muito limitativa e ao mesmo tempo é muito. É muito simpática, digamos assim. Para certos movimentos que te querem na carneirada. Claro que quanto menos tu pensares, melhor. Eu notei que dois ou três lamiré trabalha aqui para os pontos excelentes dos jornais, das televisões e das rádios. Diga aqui com uma frase e tal e que eu fique. Está bom e vou ao encontro dos receios das pessoas.
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Crise económica implica receio. As pessoas têm receio, sustêm o medo. O medo limita se. O medo não é criativo. Se tu tiveres medo, não és uma pessoa criativa. Há uma espécie de uma espécie de cultura narrativa do medo, claro. Fala do medo de fala subrepticiamente. O medo não fala, evidentemente, do medo, mas fala Quando nós atacamos os imigrantes e o e o .
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Mas depois dou te um exemplo prático Ai, eu não gostava nada do meu vizinho porque é indiano, mas tive um incêndio cá em casa. Eu fui a primeira pessoa que me veio ajudar e agora somos grandes amigos, mas deixou de ser o . Mas e aquilo? Eventualmente mas deixou de ser o para ser aquela pessoa que foi ajudar?
00:24:18:03 – 00:24:45:01
Isso é uma perspetiva francamente utilitária? Com certeza. Com certeza esse é o problema também não é só que os imigrantes neste país estão cá e ainda bem que estão. E venham mais, se for caso disso. Estão cá para ter uma vida melhor. Estão cá e pagam impostos, estão cá e contribuem para a sociedade e fazem trabalhos que a maioria da malta que se diz portuguesa, seja lá isso o que for, não faz, não quer fazer, não faz e não quer fazer.
00:24:45:03 – 00:25:14:24
Portanto, esta discussão de o outro como agente possível de Dufour de violência de Dufour, não é. É pelo medo e pelo desconhecimento. É o medo e o desconhecimento. Alimentam se porque tu não vês nas televisões e não vês nas rádios. Estamos a falar de imigração. Tu não vês nas televisões e nas rádios ou raramente vês. Vamos lá incorporar então as nossas comunidades de imigrantes e trazer esta malta para a conversa.
00:25:15:01 – 00:25:41:03
Tu fazes discursos sobre racismo na televisão com cinco brancos, Percebes o que eu quero dizer e ninguém pensou nisto. De repente estou no ar. São cinco, são todos caucasianos e tal. Foi o racismo e o racismo. Epa, francamente, Tenham lá paciência. Ninguém quer que haja diálogo, ninguém quer construir pontes, quer tudo. Estar no seu condomínio fechado, viver com arame farpado.
00:25:41:05 – 00:26:01:17
E isto é o pior que pode acontecer ao mundo. Olha, mas em princípio nós somos uma civilização gregária. Nós vivemos uns com os outros, Nós precisamos de estar uns com os outros. Nós queremos estar quando quer dizer que somos uns animais sociais? Em princípio, sim, não é em princípio. Por isso é que vamos, pois neste momento, o que tu tens são são os guetos vizinhos, não é a tua.
00:26:01:17 – 00:26:13:21
Agora eu pertenço a esta bolha. Tu pertença aquela bolha. Tu és daquela tribo ou outra da outra tribo. É isto que eu te estou a dizer. Tu estás num condomínio fechado, não estejas no condomínio fechado.
00:26:13:23 – 00:26:35:03
Não te traz nada de bom fecharmos aqui. Como é que a gente parte esse, esse muro, esse arame farpado? Eu só posso dizer te aquilo que eu faço, que eu faço é falar sobre isto. As pessoas querem falar sobre coisas que não tem importância nenhuma e eu quero falar sobre isto. Quero falar sobre como é que nós estamos a viver a nossa democracia.
00:26:35:03 – 00:26:57:06
Quero falar sobre o futuro dos nossos políticos, como é que nós encaramos, porque é que nós encaramos os nossos políticos sempre com sentido de mediocridade e com uma de descrédito que sim, eles são todos eles juntos, eles, aquela entidade anónima, Eles ou eles somos nós e o eles somos nós, porque o Estado somos nós. Portanto, o que eu faço na minha bolha é tentar abrir a bolha o mais possível.
00:26:57:06 – 00:27:21:13
É falar com o maior número de pessoas, tentar não ter preconceito, tentar estar disponível para o diálogo. Se tens que estar disponível. Se não estivesse disponível. Olha, é impressão minha ou cada vez é mais difícil e menos bem visto? A arte de fazer perguntas, claro, porque é perigosíssimo também. Cada vez é mais difícil fazer jornalismo digno desse nome.
00:27:21:15 – 00:27:57:17
Porque é difícil. Ninguém quer, ninguém quer. As redacções estão como são básicas as redacções que têm pessoas com nível salarial, uma precariedade inacreditável, porque os têm e passam recibo e amanhã não têm. Não tem contrato, não tem perspetiva de futuro. Interessante. São 3500 criaturas de cursos de comunicação social e de jornalismo por ano das faculdades que, coitadas, precisam fazer estágio de aprender, de ter a sua tarimba, chamemos lhe assim, e que são tratadas como carne para canhão e pronto.
00:27:57:21 – 00:28:20:09
E nós não estamos a falar sobre isto, sucinto. E não estamos. E o jornalismo, como política, é essencial para a democracia, é essencial. Tu não tens uma democracia sem jornalismo, não é? Não tens porque é preciso escrutinar. É preciso perguntar o que é, porque é preciso sempre perguntar, porque é preciso sempre ir atrás. Porque é preciso sempre ver o outro lado, ter o contraditório.
00:28:20:09 – 00:28:44:10
O jornalismo é isto. Eu vou vos contar esta história que se passou com a senhora A. Mas com a senhora B. Passou se outra coisa. Percebe se e se irrita. Ela está irritada. Isso não é conveniente para quem não quer que tu pensas. Que chatice! Está aqui esta pessoa aqui a fazer estas perguntas. Quem és tu quando? Quando eu consigo pensar, consigo decidir e consigo pensar.
00:28:44:10 – 00:29:10:17
As pessoas precisam de pensar e para pensarem, precisam de bom jornalismo. E vou dizer uma coisa que é um crime lesa majestade é esquisito. Enfim, crucificam, mas paciência. Precisam de jornalismo escrito, porque as pessoas precisam de contexto. Não é uma notícia de um minuto. As pessoas precisam de jornalismo escrito. As pessoas precisam de voltar a ler, porque ler também promove os neurónios e as células cinzentas do cérebro.
00:29:10:17 – 00:29:35:14
Nós deixamos de ler e nós deixamos de ler os jornais. E isso é muito perigoso. Deixar de ler os jornais é muito perigoso não acompanhar a actualidade. Tu não te podes enfiar a tua boca, dizer eu não quer saber, eu nem vou votar. Então eu vejo aqui, Eu fui lá saber. Eu vejo aqui no meu, no meu, no meu digital, aqui no meu instagram e no meu facebook as gordas que tenho uma vaga ideia.
00:29:35:16 – 00:29:57:22
Apesar de tudo, é curioso que não gostemos se temos filhos relativamente jovens ou mais crescidos, que apesar toda a atualidade, chega lhes de outra maneira, isto é, chega lhes de uma forma diferente e volta e meia eles comentam coisas meus. Os meus filhos não são exemplo para os meus filhos, são são umas criaturas que foram treinadas para estar atentas ao mundo.
00:29:57:24 – 00:30:23:00
São umas criaturas, foram treinadas para ser bons leitores, mas tu fizeste isso. Eu sou uma boa leitora e eu discuto a realidade todos os dias. E as nossas conversas à mesa de jantar eram conversas. Nunca tive a televisão ligada. Nunca. E conversava sobre tudo. E discordávamos e concordávamos que discordávamos e continuamos a concordar que discordamos nisto ou naquilo e que concordamos no outro e olhamos para as coisas e falamos sobre tudo.
00:30:23:00 – 00:30:40:03
Sempre foi assim. Olha, não era tópico desta entrevista, mas tu falaste sobre isso, que é como é que é ser mãe de uma mãe do meu filho? A pergunta é como é que é ser filho de uma mãe como esta? É capaz de ser um bocadinho mais interessante que entretanto eu já cá andava? Então deixa me lá, deixa me lá fazer a pergunta concreta que, como é que é?
00:30:40:05 – 00:31:00:07
Como é que é a tua relação com uma personalidade política? É pública, chamada Sebastião Bugalho. Eu sou a mãe dele. Sou só a mãe dele. Percebe o que eu quero dizer? Eu sou somente eu não sou militante, não sou groupie, não sou chefe de redação, não sou médica, não sou juiz dele, não sou mãe dele, que é a coisa mais importante do mundo.
00:31:00:07 – 00:31:24:05
E, portanto, quando pega no telefone e não, não, não, não. Então não, não, não pego no telefone. Acho que era coisa de puxar a orelha. Não, eu não faço, não faço isso, não faço isso. Tenho demasiado respeito já porque o meu filho não é o meu filho mais velho, assim como o meu filho mais novo. São dois homens, não são duas crianças.
00:31:24:07 – 00:31:47:20
É porque eu tenho respeito pela forma como eles entendem a vida deles e fizeram as suas opções, mesmo que as suas opções não não sejam as mesmas que eu farei. E não tem problema nenhum. E sim, é democrático. Pensam que eu respeito o caminho que cada um deles segue? Acabou, mais nada. Eu não puxo orelhas e não puxo análises a um homem com 29 anos, nenhum com 25.
00:31:47:20 – 00:32:09:14
Estamos malucos. Ok, então que é isto? Então eu fiz o meu trabalho, daí. O pacote com as ferramentas, a caixinha das ferramentas, Dei tudo o que podia, fiz o melhor que consegui. Mas uma mãe a ser mãe não é uma mãe, é sempre uma mãe, mas uma mãe é colo. Eu estou cá, Popó. Portanto, quando alguma coisa não correr bem, eu cá só ao mimo.
00:32:09:14 – 00:32:39:19
Não, não perdi. Não estou cá para puxar orelhas. Olha, voltamos às leituras. O que andas a ler? O que eu ando a ler? Olha, isso é uma boa pergunta. Eu quero um livro incríveis, uma leitura anárquica e tens pilhas de coisas para ler que vais saltando de nenúfar. Eu não farol tanto de nenúfar no farol. Eu pego num livro, leio do princípio ao fim quando estou a ler uma coisa que se chama Our Evening, do Alan de Rolling Yours, que é um escritor inacreditável.
00:32:39:21 – 00:33:06:04
Tem alguns livros publicados em Portugal A Linha da Beleza é um livro que eu recomendo A Linha da Beleza. Gostava muito voltar àquele momento inaugural em que fiz aquela primeira leitura e ele é incrível. E eu pego e leio até ao fim o que eu vou saltitando não farei, não farei. Na poesia. A poesia alimenta muito, muito. Quando é que voltas à poesia?
00:33:06:06 – 00:33:42:19
Na angústia, Quando está mesmo assim, mais de neura. Não é poesia. Depois recupera muito e vai e volta. É tipo de medicamento. Você volta sempre aos poemas de sempre. Não, não, não, não vou lendo várias coisas. Há coisas às quais volto sempre. Mas eu acho, eu acho. A poesia e a literatura muito salvadoras. Recuperam nos. Olha o livro quando é mesmo muito, muito bom que a gente está ali naquelas últimas 30 páginas a pensar e agora vai acabar E eu vou ficar aqui.
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Entre o órfão e o ressacado. Não haverá mais nenhum livro tão bonito como este. Como é que é? Como é que fazes? Como eu chego ao fim, Fecho o livro, abro o livro outra vez e volta a ler de novo. Isso já não tem surpresa. É outra maneira de encarar a leitura. Para lá do deslumbramento um E tem o contrário, que é tu dizendo olha, está aqui este escritor é que é este que é o último bolacha do pacote, mas não é o último botão pensar o rabo.
00:34:09:19 – 00:34:35:09
E Marías, por exemplo, no não há e mais não existe. Mas existem tantas bolachas no pacote, são todas tão boas nesse sentido e já estás a ferver e a pensar Já não aguento este texto, Não aguento. Hoje em dia já não tenho nenhum problema em abandonar, mas hoje abandono, pois ao lado ponho, põe, põe de lado. Posso te dizer, aliás, que aos 18 anos pus os 100 anos de solidão ao lado e disse Caramba, não tenho cabeça, não tenho cabeça para isto.
00:34:35:11 – 00:34:55:03
É um livro brilhante que eu li depois já li duas vezes ou três, mas naquela altura não dava. Aquilo era demais para mim. Os livros têm um tempo para ler, para serem livros. São lidos de forma diferente consoante a tua idade e a tua experiência. E se eu tenho a certeza absoluta, não é a mesma coisa ler Os Maias aos 15 anos e ler Os Maias aos 52.
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Se ainda por cima tentamos usar a palavra várias pessoas zangadas comigo e impingir Os Maias, Mas eu acho ótimo, sinto eu ajudar e eu não tenho nada contra isso e aquilo. Não parece uma leitura, parece uma autópsia. Eu não tenho nada contra isso. Tudo depende do professor que tu apanhas. Tu apanhares um professor inacreditável que consiga dosear o seu programa.
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Tem TV de uma pedra de uma calçada. Ora lá está, pronto é o entusiasmo do próprio professor. É aquilo que vai contagiar a turma. E tu podes ler Os Maias e podes ler o Rui Zink ou a Luísa Costa Gomes, a mesma turma e procurar. Quer dizer, repara como é que, como é que é possível dizerem que os adolescentes não aderem ao Camões.
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Escritos de Camões são sonetos de um homem apaixonado, um adolescente e, por inerência, uma pessoa apaixonada que todos os dias quero morrer e viver. E aqueles versos até dá um jeitaço. Portanto, não, não está a ser ensinado. Bem, não sei se não está a ser livros, não posso dizer isso. Eu acho que a profissão mais importante do mundo é ser professor.
00:36:01:23 – 00:36:28:20
É a pessoas que são professores porque não têm outro médico, são obrigados a isso e, portanto, há outras que são por vocação e é, suponhamos, um bom professor. É fundamental saber onde é que a literatura vem. É fundamental saber que existirão outros mundos, outras maneiras de olhar para os mesmos assuntos. Quer dizer, os livros são a melhor. O bilhete de viagem que tu podes ter.
00:36:28:24 – 00:36:51:05
Olha o que vale a pena ler. Eu tenho sempre uma dificuldade que é ora eu apanho as promoções das editoras que está a acontecer isto agora deste novo escritor. Há coisas que eu conheço e portanto é muito fácil de de lá entrar ou de ou de outro descobrir. Mas falta sempre uma curadoria, quer dizer, este aqui implícitas, preguiçoso.
00:36:51:07 – 00:37:13:08
Se calhar não achas que é isso. Eu vou à livraria, leio meia dúzia de páginas, mas há demasiadas coisas lá, certo? Certo, está bem, mas eu pego num. Como paguei a semana passada num livro de uma escritora espanhola cujo nome infelizmente não me vai ocorrer e disseste este é que é. E o livro chama se Maus Hábitos. É um livro maravilhoso, maravilhoso.
00:37:13:09 – 00:37:38:11
Eu li três páginas, li a contracapa e disse olha, eu vou experimentar. Ou seja, sem preconceito e também sem grande expetativa. Gosto? Acho que não acho. Não gosto muito. É mau. Não vem daí mal nenhum ao mundo, mas pelo menos estou disponível. Mas a quantidade de livros é tão gigantesca, a quantidade de autores é tão gigantesca. Que sorte, não é incrível?
00:37:38:13 – 00:37:59:07
É mesmo! Mas a probabilidade da gente ir falhando muitos, não é? É tanta que tinha tanta angústia. Isso não me angustia nada, porque eu acho que falhar faz parte do processo, Não é? Não vejo por que seja um problema. Não gosto deste livro. Ok, há outro que vão ao outro dia. Não existe distinção. Um livro só existe um dez.
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A Bíblia não é também? Belíssimo livro, incrível. Lenda por ter E o nome da escritora? Obrigada. Tivemos a ajuda do Google, tivemos a ajuda do povo. Obrigada! E o livro do livro é maravilhoso. Comprem! Chama se Maus Hábitos. É maravilhoso. Só pelo título ainda não li um parágrafo. Pronto, estás a ver? Às vezes o título faz diferença. Voltamos ao princípio se que lá está, como resolver a questão dos títulos?
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Quer dizer que um bom título pode, pode, Pode, obviamente, abrir e abrir. E que grandes grandes possibilidades podemos ler mais. Mais um livro na literatura portuguesa A literatura portuguesa. O estudo. Ponto. Tudo por princípio. Eu leio tudo, porque eu gosto muito dos escritores de nova geração. Eu também, porque eu leio todos e posso gostar mais de um. Posso gostar mais de um livro, posso?
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A esta coisa os escritores não são regulares. Percebo o que eu dizer. Tu pegas num tu pegas em todos os livros do Vergílio Ferreira, Vou dizer Virgílio, o da Agustina vai na Cristina. Não é possível. São todos bons, mas pegas nos nos livros de um autor. E se não são todos bons, não vão todos ser inacreditáveis para ti enquanto leitor.
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Mas podem ser para mim, aqueles que tu não gostas tanto. Se calhar para mim são incríveis. E é esta riqueza que maravilhosa, não é? Mas há alguns que te acertam. Não sei se no gosto geral ou no fado, caem no desassossego geral. O que tu pensar. Eu gosto muito, por exemplo, do João Tordo. Eu também gosto muito do João Tordo e li primeiro algumas coisas mais profundas e afins e um dia tropecei num policial dele que supostamente eu gosto mais das coisas mais profundas e afins.
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O João fez filosofia e portanto eu achei esse lado mais interessante. Eu disse o ao alto espera aqui uma porta e depois voltei aos outros a seguir. Quando eu penso no Gonçalo mesmo Tavares Jerusalém, eu digo assim aqui umas coisas que são estrelas. Mas tu estás me a dizer é preciso de cantar. Há aqui uns livros que vão funcionar mais para ti do que outros contos.
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O Normandos para ti. Agora há escritores incríveis a Luísa Costa Gomes, a Inês Pedrosa, a Teolinda Gersão, a Maria Teresa Horta, a Joana Berto, a Dulce Maria Cardoso. Somos muito a Tânia Ganho uma escritora incrível e uma tradutora igualmente incrível. Nada dela. Tânia Eu sou grande fã da Tânia. Confesso. Grande, grande fã da Tânia. Acho que a Apneia é um livro extraordinário.
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E é. Acho que ela fez um trabalho incrível. De facto, é um tema muito difícil, porque é um tema sobre o mito dentro da família, mas é um livro e não é quase sempre dentro da família. Sim, estatisticamente. Mas isso que é quase sempre dentro da família ou próximo da família. Quais são os teus hábitos de escrita? Não tem, não tens.
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E quando é quando calha, é em qualquer sítio. Escreves à mão, escreve no computador, escreve de qualquer maneira, como tu queres introduzir o que escrever aberto, passando por caneta de tinta permanente outra vez e escrevendo. E eu não tenho. Não trago um caderninho como a Inês Pedrosa ministra. Há sempre um livro dentro da mala, um caderninho dentro da mala e é o que ela dizem, porque pode surgir um romance e eu achei este lindo.
00:41:24:09 – 00:41:44:14
Mas isto nunca diria a pessoa. Eu sou uma colecionadora mental e depois escrevo quando escrevo. Pronto. E as ideias não podem escapar se se tu não tomar de uma paciência. Isso é como aquela história do Bob Dylan que vai no carro e de repente tem uma ideia para uma música e abre a janela e diz lá para cima, supostamente para Deus.
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Agora, agora que eu não tenho papel e caneta, pronto, eu enfim, eu aceito que quando começo a escrever, o que está lá está lá e o que eu perdi, perdi e estou numa fase de profunda aceitação de algumas coisas. São olha como é que é o momento em que tu decides que o livro já está escrito e que tu tens definitivamente que lhe livrar dele e entregares para que ele possa ser impresso.
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É o momento em que começa a escrever outro, começas antes de entregar aquilo. Sim, habitualmente sim. Isso não aconteceu. Quando terminei As Crianças Invisíveis e eu sinceramente achei que tinha secado, que não havia mais nada para contar e fica se com a sensação de vazio. Tanto é que eu andava, andava, andava e não aparecia nada e eu ia ficar órfã de personagens e ficar sozinha.
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É muito chato ficar sozinho naquela. Então percebi que não vi nada, não vi nada, não aparecia nada, não aparecia ninguém, não via nada. Então entreguei o livro. Depois no mim surgiu me uma radialista, a Susana, e eu escrevi o da meia noite às seis, assim de uma assentada, com uma velocidade como nunca aconteceu. Quanto tempo demora a escrever um livro despindo as crianças invisíveis?
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Eu demorei quatro anos, mas também à noite as saias levaram uns meses, três meses. E é escrever em confinamento e depois reescrever e reescrever e reescrever. E mais ou menos. E eu tenho uma coisa muito complicada na minha cabeça, que começa na terceira pessoa, passa para a primeira, depois volta para sair amanhã. Onde é que está o ponto de vista?
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Sim, o que significa que estou sempre a reescrever. E dá para mudar os pontos de vista ao longo dos capítulos? Às vezes sim e aquilo não fica incoerente se tu pensar que não saí transcorrer os livros. E para além disso, acho que é incoerente, porque quer dizer tudo. Eu estou a ver. E voltamos ao início da conversa. Estavas a falar do homem que vai para Amesterdão e por aí fora.
00:43:40:02 – 00:44:04:14
E eu digo que se tu és uma escritora intuitiva e vais fazendo essa e essa quase arqueologia mental, tu corre o risco de chegar ao fim do livro e teres um personagem que exige que escrevas o um e dois. Se tiver que reescrever, que pode um trabalho interno. Olha qual é a melhor coisa que o leitor pode dizer.
00:44:04:16 – 00:44:27:01
Gostei do seu livro porque qualquer coisa tem que haver um porque tem que haver um porquê. Sim, porque eu gosto de perceber onde é que as pessoas se encontraram dentro dos livros e onde é que encontraram uma identificação. O que é que lhes acrescentou? Gostei muito do seu livro. Qualquer pessoa pode dizer isso, Pode ser só simpático, pode ser só simpático e nem ter lido.
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Aqui entre nós acontece muito. De certeza que acontece que muita coisa tem que acontecer muito e tal. É uma escritora muito será? Gostei muito seu livro e tu ficas a pensar assim. Bem, não lhe vou fazer duas perguntas porque obviamente.
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Corro o risco da pessoa ficar entre o que escrevo, mas o que quero saber é que achas? E depois? De repente, quem? Ah, não, não, não, não, não, não foi outro livro que li há muito tempo. Já não me lembro do título. Era uma era, não era? Portanto, eu agradeço. Mas isso faz parte da mentira social também é uma forma de escrita.
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Então nós somos uma hipocrisia constante, andante, com duas perninhas para o lado dos nossos pecados. É verdade. Patrícia Reis. Muito obrigado por teres vindo. Obrigado. Quando é que saiu o livro? Sei lá. Ainda não acabei de escrever.
00:45:15:19 – 00:45:36:09
Já agora, este era a última pergunta. Mas eu tem mais uma muito boa relação com os editores, porque imagino que os editores na sua cabeça tenham tenha uns prazos, tenham uma relação. Eu não tenho nenhum problema com prazos, mas na ficção, felizmente isso não existe e portanto, pode ser quando for, pode ser quando for Não, ficção não é assim, não é o caso da biografia da Maria Teresa Horta.
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Havia um caso, mas é diferente porque fazer uma biografia é um trabalho menos romanesco. Lá está, tu vais à procura de fontes e de perspetivas e de ideias e juntas, aquilo tudo é um trabalho mais jornalístico, se quiser. Como é que se faz? Como é que faz? Com dificuldade, com muita dificuldade. E no caso específico da Maria Teresa, estando ela viva, felizmente com um sentido de responsabilidade tremendo, porque há uma linha que tu não podes cruzar e depois mandas lhe mandar te.
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Eu disse lhe que ela podia ler, ela não quis ler e ela não quis ler porque a jornalista Isso é muito bonito. Foi a maior prova de confiança de todas as que Teresa, como eu, faz parte daquela daquele grupo de jornalistas que não dá entrevistas a ler. As pessoas que entrevistou, claro, E edita e publica. E a responsabilidade e a responsabilidade dos dois, obviamente, neste caso a história dela.
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Mas. Mas és tu que é que conta? Mas ela iria sempre, se calhar ter a necessidade de mudar isto ou aquilo, isto ou aquilo e não quis sujeitar se que isso nela própria. Como é que se escreve sobre? Sobre os lados mais negros ou mais difíceis de admitir da vida de alguém com dificuldade? Outra vez tudo é com dificuldade.
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Caramba, não é difícil, É difícil. É difícil perceber a fronteira entre aquilo que pode escrever e o que não pode escrever. E não deixei de dizer que a Teresa é uma pessoa que se alimenta do conflito, que é uma pessoa que violenta, não é uma pessoa consensual. Eu escrevia essas coisas todas. Agora há maneiras. Tu podes dizer tudo juntos, sim, mas depois há uma dimensão de intimidade.
00:47:10:05 – 00:47:37:00
Claro que estando ela vivo, tens que ter esse respeito e sendo eu amiga dela há tantos anos, o respeito ainda é maior. Portanto, aquilo foi uma missão perigosa, muito perigosa, mas. Mas foi incrível de fazer e eu estou muito contente E sobretudo, estou muito contente com a reação das pessoas. Se eu conseguir que as pessoas leiam a história da Maria Teresa Horta e voltem a obra dela, para mim está feito.
00:47:37:02 – 00:47:41:11
Patrícia obrigado, Obrigada.
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