A Cama de Procusto e as Ideologias Modernas
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Procusto é um famoso personagem da mitologia grega. Ele era um bandido que vivia em uma pousada na antiga Grécia e possuía uma cama de ferro. O nome Procusto deriva do verbo grego “prokrouo”, que significa “estender à força” ou “esticar”.
A característica marcante de Procusto era seu método cruel de receber os viajantes. Quando alguém se hospedava em sua pousada, ele o convidava a deitar-se em sua cama de ferro. Se o viajante fosse menor do que a cama, Procusto o amarrava e esticava seus membros até que se adequassem ao tamanho da cama. Por outro lado, se o viajante fosse maior, Procusto cortava seus membros para que ele se encaixasse na cama.
Em ambos os casos, a vítima sofria.
Sob a luz desse mito, Ortega y Gasset vai nos revelar um pouco sobre a característica de algumas filosofias ou correntes de pensamento modernas.
Ele começa, em seu livro “O que é a Filosofia?”, a desenhar a confusão da exatidão com suficiência.
Segundo o filósofo, a diferença entre verdade científica e verdade filosófica é que a primeira é exata, mas insuficiente, enquanto a segunda é suficiente, mas não exata.
Esse é um problema da incompletude de uma ideia humana sobre a realidade. Quando buscamos uma verdade, buscamos ela em sua plena exatidão e sua plena eficiência.
Por isso mesmo foi muito tentador para o desenvolvimento do pensamento humano buscar uma ideia que conjugue tudo isso.
Isso é o que algumas filosofias modernas tentam resolver ao se afirmarem tanto como verdade científica (considerando toda a história das ideias anteriores como utopia ou idealismo) quanto como verdade filosófica (considerando que toda filosofia anterior é a mera pavimentação para o surgimento da última – uma espécie de concepção messiânica que foi muito bem esclarecida por Eric Voegelin).
O problema é que essas filosofias que buscam ser ao mesmo tempo verdades filosóficas e verdades científicas acabam não sendo nem uma coisa nem outra.
Não que isso seja impossível, mas até agora o que vimos são filosofias que transitam num espaço intermediário e incerto entre as duas.
Quando você pede para essas filosofias prestarem contas em um campo, logo elas se abrigam no outro.
Os ideólogos dessas filosofias são como Procusto, que mutilam ou distorcem a realidade como se ela fosse o viajante da narrativa do mito, buscando conformar a realidade em “sua cama”.
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