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Resultados do 1° turno das eleições municipais evidenciam dificuldades e desafios para a esquerda

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Ainda que venha do reduto eleitoral de Jair Bolsonaro uma das vitórias do presidente Lula nessas eleições municipais, com Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro, a escolha de prefeitos e vereadores mostrou o avanço da direita nos municípios brasileiros. Especialistas ouvidos pela RFI afirmam que a polarização serviu a apenas um dos lados, mas que o bolsonarismo também criou fantasmas para si nessas disputas

Raquel Miura,correspondente da RFI em Brasília

As imagens de eleitores fanáticos de Pablo Marçal (PRTB) acompanhando a apuração dos votos na Avenida Paulista no último domingo pareciam, guardadas as devidas proporções, um déjà vu de 2022, quando Jair Bolsonaro foi derrotado nas urnas e não conseguiu se reeleger.

Marçal ficou fora do segundo turno da disputa na capital paulista, que vai opor Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). No entanto, ele conseguiu mobilizar a extrema direita e eis aqui o sinal de alerta que soou nas lideranças bolsonaristas, ainda mais diante da avalanche de manifestações nas redes sociais jogando a culpa no ex-presidente.

“No princípio da campanha, Bolsonaro fez um movimento para o centro, reunindo um arco de partidos em torno do atual prefeito, apostou em legendas tradicionais para carregar o nome dele. E ao fazer isso parece que deixou uma quantidade interessante de eleitores para trás. Eleitores que caíram na armadilha do Pablo Marçal, que fez uma campanha mais bolsonarista do que o próprio candidato de Bolsonaro. A questão é, se Bolsonaro for para o centro, deixará parte dos eleitores a serem disputados pela direita?”, questiona o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy.

Desafios para a esquerda

Se o fenômeno Pablo Marçal gera debates na direita, o resultado das eleições municipais evidenciaram desafios muito mais profundos na esquerda, que viu o PL de Bolsonaro avançar em vários estados, inclusive no Nordeste, e siglas do centrão, como PSD e o PP, também se fortalecendo.

“A esquerda não conseguiu até agora se recuperar do baque que sofreu em 2016, quando o PT perdeu 60% dos seus prefeitos e vereadores, num contexto de impeachment de Dilma Rousseff, recessão econômica e Lava Jato. De lá para cá, houve avanços pontuais, mas o PT ainda está muito aquém daquilo que já foi e sabe que precisa mudar suas estratégias para conseguir chegar no eleitorado”, afirmou o cientista político Cláudio Couto, professor da FGV/EAESP.

A confirmação de Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno é um colírio para o presidente Lula em meio à névoa dos resultados eleitorais, mas traz consigo o desafio em si de um páreo duríssimo com Ricardo Nunes (MDB) e não afasta a necessidade de reconstruir pontes como eleitorado.

“Já se imaginava um desempenho pequeno da esquerda, em razão da dificuldade de renovação que o PT tem. E a renovação não tem apenas a ver com nomes ou com idade, mas também com agendas e com bandeiras. Acho que existe uma sinalização clara de que o PT vai ter dificuldade para 2026”, avalia Leonardo Barreto.

Abstenções

O índice de abstenção no primeiro turno das eleições municipais de 2024 foi de 21,71%, superando o percentual de 2016 (17,58%) e ficando abaixo do índice de 2020 (23,15%), durante a pandemia de Covid 19.

“Eu acho que a gente ainda precisa ter um pouco de cautela para avaliar o percentual de abstenção, lembrando que este ano foi possível fazer justificativa pelo aplicativo do e-título. Difícil dizer que há necessariamente um desencanto grande com a política. Claro que se a gente considera o resultado, o desencanto foi maior com a esquerda, já que ela se saiu pior nessas eleições do que a direita”, disse Cláudio Couto.

O professor também lembrou o peso das emendas parlamentares nas eleições, num ciclo que se retroalimenta. As emendas parlamentares irrigam as bases eleitorais com recursos e ajudam muitas vezes prefeitos naquelas regiões, com deputados apadrinhando candidatos ou mesmo disputando o cargo. "Então, esse caminho tem mão dupla, a base de prefeitos e vereadores ajuda a eleger deputados, deputados que controlam muitas fatias do orçamento, conseguem municiar suas bases com recursos e isso reverte em mais votos”, diz Couto.

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Raquel Miura,correspondente da RFI em Brasília

As imagens de eleitores fanáticos de Pablo Marçal (PRTB) acompanhando a apuração dos votos na Avenida Paulista no último domingo pareciam, guardadas as devidas proporções, um déjà vu de 2022, quando Jair Bolsonaro foi derrotado nas urnas e não conseguiu se reeleger.

Marçal ficou fora do segundo turno da disputa na capital paulista, que vai opor Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). No entanto, ele conseguiu mobilizar a extrema direita e eis aqui o sinal de alerta que soou nas lideranças bolsonaristas, ainda mais diante da avalanche de manifestações nas redes sociais jogando a culpa no ex-presidente.

“No princípio da campanha, Bolsonaro fez um movimento para o centro, reunindo um arco de partidos em torno do atual prefeito, apostou em legendas tradicionais para carregar o nome dele. E ao fazer isso parece que deixou uma quantidade interessante de eleitores para trás. Eleitores que caíram na armadilha do Pablo Marçal, que fez uma campanha mais bolsonarista do que o próprio candidato de Bolsonaro. A questão é, se Bolsonaro for para o centro, deixará parte dos eleitores a serem disputados pela direita?”, questiona o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy.

Desafios para a esquerda

Se o fenômeno Pablo Marçal gera debates na direita, o resultado das eleições municipais evidenciaram desafios muito mais profundos na esquerda, que viu o PL de Bolsonaro avançar em vários estados, inclusive no Nordeste, e siglas do centrão, como PSD e o PP, também se fortalecendo.

“A esquerda não conseguiu até agora se recuperar do baque que sofreu em 2016, quando o PT perdeu 60% dos seus prefeitos e vereadores, num contexto de impeachment de Dilma Rousseff, recessão econômica e Lava Jato. De lá para cá, houve avanços pontuais, mas o PT ainda está muito aquém daquilo que já foi e sabe que precisa mudar suas estratégias para conseguir chegar no eleitorado”, afirmou o cientista político Cláudio Couto, professor da FGV/EAESP.

A confirmação de Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno é um colírio para o presidente Lula em meio à névoa dos resultados eleitorais, mas traz consigo o desafio em si de um páreo duríssimo com Ricardo Nunes (MDB) e não afasta a necessidade de reconstruir pontes como eleitorado.

“Já se imaginava um desempenho pequeno da esquerda, em razão da dificuldade de renovação que o PT tem. E a renovação não tem apenas a ver com nomes ou com idade, mas também com agendas e com bandeiras. Acho que existe uma sinalização clara de que o PT vai ter dificuldade para 2026”, avalia Leonardo Barreto.

Abstenções

O índice de abstenção no primeiro turno das eleições municipais de 2024 foi de 21,71%, superando o percentual de 2016 (17,58%) e ficando abaixo do índice de 2020 (23,15%), durante a pandemia de Covid 19.

“Eu acho que a gente ainda precisa ter um pouco de cautela para avaliar o percentual de abstenção, lembrando que este ano foi possível fazer justificativa pelo aplicativo do e-título. Difícil dizer que há necessariamente um desencanto grande com a política. Claro que se a gente considera o resultado, o desencanto foi maior com a esquerda, já que ela se saiu pior nessas eleições do que a direita”, disse Cláudio Couto.

O professor também lembrou o peso das emendas parlamentares nas eleições, num ciclo que se retroalimenta. As emendas parlamentares irrigam as bases eleitorais com recursos e ajudam muitas vezes prefeitos naquelas regiões, com deputados apadrinhando candidatos ou mesmo disputando o cargo. "Então, esse caminho tem mão dupla, a base de prefeitos e vereadores ajuda a eleger deputados, deputados que controlam muitas fatias do orçamento, conseguem municiar suas bases com recursos e isso reverte em mais votos”, diz Couto.

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