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Argentina atinge maior recorde de pobreza em 21 anos e registra 5,4 milhões de novos pobres
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A pobreza na Argentina atingiu 52,9% da população no primeiro semestre deste ano, período no qual a situação penalizou quase sete a cada dez crianças, das quais três passam fome. A queda do poder aquisitivo diante da inflação paralisa a economia, fazendo com que a crise de consumo resulte também em desemprego. O governo de Javier Milei diz que a culpa é da herança recebida.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Segundo os números oficiais divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a pobreza na Argentina afetou mais da metade da população (52,9%) no primeiro semestre, atingindo 24,9 milhões de pessoas que não têm o suficiente para as necessidades básicas, como alimentação e serviços.
O número é 11,2 pontos percentuais a mais do que os 41,7% de pobres que havia no país em dezembro passado, quando o presidente Javier Milei assumiu o poder. Foram 5,4 milhões de novos pobres em seis meses.
Desses, os indigentes representam 18,1%, equivalentes a 8,5 milhões de pessoas que não podem comprar uma cesta básica de alimentos num dos países que produzem mais proteínas, grãos e cereais no mundo.
São 4,2 milhões de pessoas a mais a enfrentar a situação de pobreza desde dezembro, quando a indigência atingia 11,9% da população depois de 211,4% de inflação em 2023, a mais alta do mundo.
O número mais impactante, no entanto, é o da pobreza infantil: 66,1% dos menores de 14 anos são pobres. No total, o problema atinge 7,3 milhões de crianças. Pior ainda: o número de indigentes infantis - crianças que passam fome - chega a 27%: o dobro de um ano atrás.
Inflação x salários
O veloz aumento da pobreza é consequência da aceleração do índice de inflação sem um reajuste equivalente de salários e aposentadorias.
Quando assumiu em dezembro passado, o presidente Javier Milei desvalorizou a moeda em 54% e adotou um forte ajuste fiscal, equivalente a 5 pontos do Produto Interno Bruto (PIB). Milei vangloria-se do que denomina “o maior ajuste fiscal da história da humanidade”.
A desvalorização da moeda fez disparar os preços. A perda de poder aquisitivo paralisou a economia. O corte no gasto público paralisou as obras.
O PIB caiu 3,4% nos primeiros seis meses de governo Milei (-5,1% no primeiro trimestre). O consumo privado diminuiu 9,8%. Os setores mais dinâmicos para o emprego, como construção (-22,2%), indústria de manufaturas (-17,4%), comércio (-15,7%) e hotéis e restaurantes (-4,5%), desabaram.
A receita familiar aumentou 87,8%, em média, enquanto a cesta básica de alimentos subiu 115,3%, resultando numa perda de 27,5% do poder de compra. Já os serviços básicos subiram 119,3%, totalizando uma perda de 31,5% do poder aquisitivo.
Crise de consumo x crise de emprego
A Argentina pode estar no ponto de inflexão a partir do qual uma crise de consumo gere também uma crise no trabalho. O desemprego no primeiro semestre pulou de 6,2% a 7,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
A inflação mensal que estava na casa dos dois dígitos, agora está em um dígito, em torno de 4%. Embora ainda seja elevado, esse número é cinco vezes menor do que o de dezembro, quatro vezes menor do que o de janeiro, três vezes menor do que o de fevereiro e a metade do de abril.
A questão é se os salários e as aposentadorias vão recuperar essa perda. Para o presidente Javier Milei, a atual situação social é uma herança do governo anterior. O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, indicou que os primeiros meses do mandato foram dedicados a evitar uma hiperinflação que pioraria o quadro social.
“Este governo herdou uma situação desastrosa. Provavelmente, a pior herança que um governo recebeu na história argentina. Quando falamos sobre hiperinflação e da importância de tê-la evitado, é que a pobreza teria passado de cerca de 40% a cerca de 95%. Teríamos entrado num mar de pobreza absoluta”, argumentou Adorni.
O problema desse discurso é que, como não aconteceu, ninguém viveu. Os argentinos vivem a realidade de um custo de vida elevado, de uma economia que combina alta inflação com forte recessão, que gera pobres em massa e empregos precários.
Isso explica que a imagem do presidente Milei tenha começado a cair em todas as pesquisas de opinião, passando neste mês, pela primeira vez no ano, a ter mais imagem negativa do que positiva.
24 episodios
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A pobreza na Argentina atingiu 52,9% da população no primeiro semestre deste ano, período no qual a situação penalizou quase sete a cada dez crianças, das quais três passam fome. A queda do poder aquisitivo diante da inflação paralisa a economia, fazendo com que a crise de consumo resulte também em desemprego. O governo de Javier Milei diz que a culpa é da herança recebida.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Segundo os números oficiais divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a pobreza na Argentina afetou mais da metade da população (52,9%) no primeiro semestre, atingindo 24,9 milhões de pessoas que não têm o suficiente para as necessidades básicas, como alimentação e serviços.
O número é 11,2 pontos percentuais a mais do que os 41,7% de pobres que havia no país em dezembro passado, quando o presidente Javier Milei assumiu o poder. Foram 5,4 milhões de novos pobres em seis meses.
Desses, os indigentes representam 18,1%, equivalentes a 8,5 milhões de pessoas que não podem comprar uma cesta básica de alimentos num dos países que produzem mais proteínas, grãos e cereais no mundo.
São 4,2 milhões de pessoas a mais a enfrentar a situação de pobreza desde dezembro, quando a indigência atingia 11,9% da população depois de 211,4% de inflação em 2023, a mais alta do mundo.
O número mais impactante, no entanto, é o da pobreza infantil: 66,1% dos menores de 14 anos são pobres. No total, o problema atinge 7,3 milhões de crianças. Pior ainda: o número de indigentes infantis - crianças que passam fome - chega a 27%: o dobro de um ano atrás.
Inflação x salários
O veloz aumento da pobreza é consequência da aceleração do índice de inflação sem um reajuste equivalente de salários e aposentadorias.
Quando assumiu em dezembro passado, o presidente Javier Milei desvalorizou a moeda em 54% e adotou um forte ajuste fiscal, equivalente a 5 pontos do Produto Interno Bruto (PIB). Milei vangloria-se do que denomina “o maior ajuste fiscal da história da humanidade”.
A desvalorização da moeda fez disparar os preços. A perda de poder aquisitivo paralisou a economia. O corte no gasto público paralisou as obras.
O PIB caiu 3,4% nos primeiros seis meses de governo Milei (-5,1% no primeiro trimestre). O consumo privado diminuiu 9,8%. Os setores mais dinâmicos para o emprego, como construção (-22,2%), indústria de manufaturas (-17,4%), comércio (-15,7%) e hotéis e restaurantes (-4,5%), desabaram.
A receita familiar aumentou 87,8%, em média, enquanto a cesta básica de alimentos subiu 115,3%, resultando numa perda de 27,5% do poder de compra. Já os serviços básicos subiram 119,3%, totalizando uma perda de 31,5% do poder aquisitivo.
Crise de consumo x crise de emprego
A Argentina pode estar no ponto de inflexão a partir do qual uma crise de consumo gere também uma crise no trabalho. O desemprego no primeiro semestre pulou de 6,2% a 7,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
A inflação mensal que estava na casa dos dois dígitos, agora está em um dígito, em torno de 4%. Embora ainda seja elevado, esse número é cinco vezes menor do que o de dezembro, quatro vezes menor do que o de janeiro, três vezes menor do que o de fevereiro e a metade do de abril.
A questão é se os salários e as aposentadorias vão recuperar essa perda. Para o presidente Javier Milei, a atual situação social é uma herança do governo anterior. O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, indicou que os primeiros meses do mandato foram dedicados a evitar uma hiperinflação que pioraria o quadro social.
“Este governo herdou uma situação desastrosa. Provavelmente, a pior herança que um governo recebeu na história argentina. Quando falamos sobre hiperinflação e da importância de tê-la evitado, é que a pobreza teria passado de cerca de 40% a cerca de 95%. Teríamos entrado num mar de pobreza absoluta”, argumentou Adorni.
O problema desse discurso é que, como não aconteceu, ninguém viveu. Os argentinos vivem a realidade de um custo de vida elevado, de uma economia que combina alta inflação com forte recessão, que gera pobres em massa e empregos precários.
Isso explica que a imagem do presidente Milei tenha começado a cair em todas as pesquisas de opinião, passando neste mês, pela primeira vez no ano, a ter mais imagem negativa do que positiva.
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