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Eleição de comissários europeus reflecte divisão da UE
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O Parlamento Europeu aprovou esta semana o novo colégio de comissários europeus com 370 votos a favor, 282 contra e 36 abstenções, a aprovação mais baixa de sempre da história da União Europeia. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o relançamento da economia da zona euro, o reforço do sector da defesa e o apoio à Ucrânia são as prioridades desta equipa nos próximos cinco anos. Vítor Oliveira, analista político e secretário-geral da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social da EUROPA, fala dos desafios deste colégio de comissários, numa altura em que a União Europeia surge muito dividida.
RFI: A nova Comissão Europeia foi aprovada pelo Parlamento com o apoio mais baixo da história da União Europeia. O que muda nesta equipa?
Vítor Oliveira, analista político: Historicamente, na União Europeia, nunca foi aprovado um colégio de comissários com uma votação tão baixa e isso não é um bom sinal. Numa altura em que a União Europeia precisava de união, os partidos estão bastante divididos em relação ao colégio de comissários.
Lembrar, também, que o facto de o colégio de comissários absorver pessoas de extrema-direita não facilitou a votação e provavelmente, por isso, houve esta descida em relação à votação de Julho.
O que se pode esperar é que António Costa, presidente do Conselho Europeu, seja um facilitador das relações, dentro da União Europeia, entre os vários partidos e os vários países, e que consiga levar este colégio de comissários a bom porto.
A Presidente da Comissão Europeia não conseguiu o objectivo da paridade. Há menos mulheres nesta equipa…
Era um dos objectivos de Ursula von der Leyen, mas o colégio de comissários e comissárias é proposto pelos vários países. Ou seja, não pode haver uma imposição em ser um homem ou uma mulher. Mas claro que isso também representa uma pequena derrota, se podemos dizer assim, para aquilo que eram os objectivos de Ursula von der Leyen, que era ter um colégio de comissários paritário.
Existem duas maiorias na Assembleia Legislativa com as quais o presidente da Comissão terá de lidar: uma formada por conservadores, social democratas e liberais, a outra construída em torno da direita e da extrema-direita. Com quem poderá contar Ursula von der Leyen?
Poderá contar sobretudo com o colégio de comissários e com o Partido Popular Europeu, que é o seu, com o partido de Giorgia Meloni, que coloca também pessoas nesta comissão. Como disse, há pouco, António Costa poderá ter um papel determinante nas negociações, fazendo com que Ursula von der Leyen leve a bom termo o programa proposto [para os próximos cinco anos].
O italiano Rafael Fito, do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, foi nomeado vice-presidente executivo, estando encarregue da coesão e reformas. A eurodeputada francesa dos Verdes, Mary Toussaint, afirmou que, com esta escolha, Ursula von der Leyen banalizou a entrada da extrema-direita nas instituições. É disto que se trata?
Todos os partidos, que criticam essa escolha, teriam uma boa opção que era apoiar Ursula von der Leyen para que ela não tivesse de ir buscar pessoas à extrema-direita para conseguir compor o colégio de comissários. A extrema-direita tem vindo a subir em vários países europeus e em várias geografias. Neste caso, também há uma subida da extrema-direita na União Europeia, levando a que haja mais deputados e os partidos de extrema-direita tenham muito mais influência, neste caso até sobre o colégio de comissários. Esta situação também se deve ao facto do centro não se conseguir entender, ficando fragilizado. Portanto, se os partidos de centro ou da esquerda queriam bloquear a extrema-direita, poderiam ter aceitado negociar.
A França e a Alemanha, que atravessam crises políticas internas, saem enfraquecidas neste colégio de comissários?
Vai ser interessante seguir a relação entre Michel Barnier [primeiro-ministro francês] e Ursula von der Leyen. As relações entre eles não são as mais famosas. Na altura do Brexit [2020], Michel Barnier - enviado para as negociações do Brexit da União Europeia - quase não falava com Ursula von der Leyen. Eles têm visões um pouco diferentes da política europeia. Contudo, Michel Barnier tem muita experiência no domínio da política europeia.
Outra questão interessante será de perceber como é que Ursula von der Leyen vai reagir com o colégio de comissários, quais vão ser as políticas da União Europeia, neste próximo ciclo, para perceber como é que vai tentar dar a volta às crises brutais que atravessam a Alemanha e França. A França já está a sentir em várias áreas da economia e a Alemanha com a Volkswagen a encerrar algumas fábricas, a Volkswagen que representa 7,2% PIB alemão, só por aqui podemos perceber o impacto que isto vai ter. Vamos tentar perceber como é que a União Europeia vai colocar a máquina a funcionar para esta nova dinâmica económica, ainda por cima com uma guerra à porta.
Ursula von der Leyen insistiu que a liberdade e a soberania dependem, mais do que nunca, do poder económico. Sublinhando que é preciso aumentar a despesa militar, num contexto de guerra na Ucrânia e com o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Quais serão os principais desafios desta equipa?
Neste momento, se olharmos para o que se passa em França, com as várias manifestações na área da agricultura. Ursula von der Leyen devia ter feito um discurso no G20 no Brasil, sobre a questão da assinatura do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, e não fez. Isto porque há uma grande resistência em França para que este acordo não seja assinado. Este acordo comercial vai ser um braço de ferro importante entre a União Europeia e a França.
A União Europeia deve apostar mais na defesa?
A União Europeia terá que ter outra dinâmica a nível de estratégia de defesa. Donald Trump poderá ter alguma mudança de política, mas a NATO também permite aos Estados Unidos continuar a ter a supremacia mundial. Grande parte do armamento que é comprado por muitos países, também é vendido pelos Estados Unidos.
Ou seja, Donald Trump não pode tomar decisões unilaterais. Provavelmente tomará decisões um pouco mais sólidas, mas não tomará, na minha opinião, decisões contra aquilo que é hoje a Aliança Atlântica.
Agora, a Europa tem que ter uma política de defesa, com uma estratégia muito bem definida, pensando que aquilo que aconteceu na Ucrânia pode vir a acontecer em países do Leste ou pode vir a acontecer em países do centro da Europa.
A guerra não se vai gerir só em matéria de área da defesa. Hoje não se gere só em matéria de tropas apeadas de infantaria. Hoje gere-se muito em termos de aviação militar, ataques cibernéticos e aposta na informação. A dependência energética da Alemanha com a Rússia foi muito complicada para o país. Portanto, tudo isso são matérias a serem pensadas na área da defesa. E a União Europeia, neste caso, tem que pensar muito bem para não ter essa dependência, mas não se pode fechar ao exterior.
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O Parlamento Europeu aprovou esta semana o novo colégio de comissários europeus com 370 votos a favor, 282 contra e 36 abstenções, a aprovação mais baixa de sempre da história da União Europeia. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o relançamento da economia da zona euro, o reforço do sector da defesa e o apoio à Ucrânia são as prioridades desta equipa nos próximos cinco anos. Vítor Oliveira, analista político e secretário-geral da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social da EUROPA, fala dos desafios deste colégio de comissários, numa altura em que a União Europeia surge muito dividida.
RFI: A nova Comissão Europeia foi aprovada pelo Parlamento com o apoio mais baixo da história da União Europeia. O que muda nesta equipa?
Vítor Oliveira, analista político: Historicamente, na União Europeia, nunca foi aprovado um colégio de comissários com uma votação tão baixa e isso não é um bom sinal. Numa altura em que a União Europeia precisava de união, os partidos estão bastante divididos em relação ao colégio de comissários.
Lembrar, também, que o facto de o colégio de comissários absorver pessoas de extrema-direita não facilitou a votação e provavelmente, por isso, houve esta descida em relação à votação de Julho.
O que se pode esperar é que António Costa, presidente do Conselho Europeu, seja um facilitador das relações, dentro da União Europeia, entre os vários partidos e os vários países, e que consiga levar este colégio de comissários a bom porto.
A Presidente da Comissão Europeia não conseguiu o objectivo da paridade. Há menos mulheres nesta equipa…
Era um dos objectivos de Ursula von der Leyen, mas o colégio de comissários e comissárias é proposto pelos vários países. Ou seja, não pode haver uma imposição em ser um homem ou uma mulher. Mas claro que isso também representa uma pequena derrota, se podemos dizer assim, para aquilo que eram os objectivos de Ursula von der Leyen, que era ter um colégio de comissários paritário.
Existem duas maiorias na Assembleia Legislativa com as quais o presidente da Comissão terá de lidar: uma formada por conservadores, social democratas e liberais, a outra construída em torno da direita e da extrema-direita. Com quem poderá contar Ursula von der Leyen?
Poderá contar sobretudo com o colégio de comissários e com o Partido Popular Europeu, que é o seu, com o partido de Giorgia Meloni, que coloca também pessoas nesta comissão. Como disse, há pouco, António Costa poderá ter um papel determinante nas negociações, fazendo com que Ursula von der Leyen leve a bom termo o programa proposto [para os próximos cinco anos].
O italiano Rafael Fito, do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, foi nomeado vice-presidente executivo, estando encarregue da coesão e reformas. A eurodeputada francesa dos Verdes, Mary Toussaint, afirmou que, com esta escolha, Ursula von der Leyen banalizou a entrada da extrema-direita nas instituições. É disto que se trata?
Todos os partidos, que criticam essa escolha, teriam uma boa opção que era apoiar Ursula von der Leyen para que ela não tivesse de ir buscar pessoas à extrema-direita para conseguir compor o colégio de comissários. A extrema-direita tem vindo a subir em vários países europeus e em várias geografias. Neste caso, também há uma subida da extrema-direita na União Europeia, levando a que haja mais deputados e os partidos de extrema-direita tenham muito mais influência, neste caso até sobre o colégio de comissários. Esta situação também se deve ao facto do centro não se conseguir entender, ficando fragilizado. Portanto, se os partidos de centro ou da esquerda queriam bloquear a extrema-direita, poderiam ter aceitado negociar.
A França e a Alemanha, que atravessam crises políticas internas, saem enfraquecidas neste colégio de comissários?
Vai ser interessante seguir a relação entre Michel Barnier [primeiro-ministro francês] e Ursula von der Leyen. As relações entre eles não são as mais famosas. Na altura do Brexit [2020], Michel Barnier - enviado para as negociações do Brexit da União Europeia - quase não falava com Ursula von der Leyen. Eles têm visões um pouco diferentes da política europeia. Contudo, Michel Barnier tem muita experiência no domínio da política europeia.
Outra questão interessante será de perceber como é que Ursula von der Leyen vai reagir com o colégio de comissários, quais vão ser as políticas da União Europeia, neste próximo ciclo, para perceber como é que vai tentar dar a volta às crises brutais que atravessam a Alemanha e França. A França já está a sentir em várias áreas da economia e a Alemanha com a Volkswagen a encerrar algumas fábricas, a Volkswagen que representa 7,2% PIB alemão, só por aqui podemos perceber o impacto que isto vai ter. Vamos tentar perceber como é que a União Europeia vai colocar a máquina a funcionar para esta nova dinâmica económica, ainda por cima com uma guerra à porta.
Ursula von der Leyen insistiu que a liberdade e a soberania dependem, mais do que nunca, do poder económico. Sublinhando que é preciso aumentar a despesa militar, num contexto de guerra na Ucrânia e com o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Quais serão os principais desafios desta equipa?
Neste momento, se olharmos para o que se passa em França, com as várias manifestações na área da agricultura. Ursula von der Leyen devia ter feito um discurso no G20 no Brasil, sobre a questão da assinatura do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, e não fez. Isto porque há uma grande resistência em França para que este acordo não seja assinado. Este acordo comercial vai ser um braço de ferro importante entre a União Europeia e a França.
A União Europeia deve apostar mais na defesa?
A União Europeia terá que ter outra dinâmica a nível de estratégia de defesa. Donald Trump poderá ter alguma mudança de política, mas a NATO também permite aos Estados Unidos continuar a ter a supremacia mundial. Grande parte do armamento que é comprado por muitos países, também é vendido pelos Estados Unidos.
Ou seja, Donald Trump não pode tomar decisões unilaterais. Provavelmente tomará decisões um pouco mais sólidas, mas não tomará, na minha opinião, decisões contra aquilo que é hoje a Aliança Atlântica.
Agora, a Europa tem que ter uma política de defesa, com uma estratégia muito bem definida, pensando que aquilo que aconteceu na Ucrânia pode vir a acontecer em países do Leste ou pode vir a acontecer em países do centro da Europa.
A guerra não se vai gerir só em matéria de área da defesa. Hoje não se gere só em matéria de tropas apeadas de infantaria. Hoje gere-se muito em termos de aviação militar, ataques cibernéticos e aposta na informação. A dependência energética da Alemanha com a Rússia foi muito complicada para o país. Portanto, tudo isso são matérias a serem pensadas na área da defesa. E a União Europeia, neste caso, tem que pensar muito bem para não ter essa dependência, mas não se pode fechar ao exterior.
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